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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

EUCLIDES DA CUNHA (1866-1909)




Servis!… dançai, folgai – na régia bacanália… 
Quadro-voz essa luz que nos raios espalha 
A treva e o crime atrai!…
Valsai – nesse delírio atroz, brutal que assombra - 
Folgai… a grande Luz espia-vos na sombra! 
Folgai, cantai – valsai!…
Que vos importa – ó vis, caricatos atletas - 
Se o povo dorme nu – nas lôbregas sarjetas - 
Entre o pântano e os Céus!….
Q’importa se essa luz – faz as noites da História! 
Q’importa se os heróis ‘stão entre a lama e a Glória 
Entre a miséria e Deus!…
Q’importa-vos a dor; – a lágrima brilhante 
Do seio dos heróis -, estrela palpitante 
Que ao céu do porvir vai…
Q’importa-vos a honra, a consciência, a crença, 
A justiça, o dever!?… ah! vossa febre é imensa! - 
Folga, folgai, folgai!…
Q’importa-vos a Pátria…a pátria – é-vos um nome!…. 
Q’importa-vos o povo – esse galé da fome - 
Ó cortesãos, ó rei!?
Se o olhar das barregãs, de amor e febre aceso 
Vos ferve dentro d’alma – e se o direito é preso 
Nessa grilheta – Lei!
Fazeis bem em rir – ó pequeninos seres… 
O crime, o vício e o mal são os vossos deveres - 
Avante pois – gozai…
Atufai-vos – rolai ó almas guarida - 
No abismo fundo e frio – o seio da perdida!… 
– Cantai… cantai, cantai!…
Gritai com força! assim… não percebeis agora 
O eco de vossa voz?… – de vossa voz sonora - 
Tremer na vastidão!?
Não ouvis as canções que o seu frêmito espalha?… 
Ele desce de Deus – ó dourada canalha - 
Ele é – Revolução!…

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