Prezado Claudio Leal/ Revista Piaui,
Tenho algumas considerações a fazer a respeito do seu texto.
Em primeiro lugar, nem parece ter saido da pena da pessoa cordial, educada e de voz mansa que me ligou varias vezes e com a qual troquei inumeros emails e me dispus a ajudar no que fosse preciso. Parece sim um texto de moleque de clude de varzea provocador dado a tertulhas tetanisantes . Ou de intelectualzinho de vanguarda imitador do dadaismo desfilando nos salões luxuosos de São Paulo. Fico pensando que você como empregado desta revista pode ter sido obrigado ou imposto a praticar este tipo de jornalismo vulgar. Ai seria vexaminoso.
Claro que o poeta Lêdo Ivo por suas posições estéticas e pela grandeza de sua obra incomodava e ainda incomoda e assombra a provincia das letras brasileiras. Centrar praticamente todo um artigo nas frivolidades da agremiação da avenida Presidente Wilson, onde, ao contrario do que você enumera, meu pai era querido e amado, transforma seu pobre texto em algo proximo a Holla, Caras, Big Brother, etc...
Isto não é so um comentario meu, mas varias pessoas me escreveram ou telefonaram aqui para Paris indignadas com a baixa qualidade e vulgaridade do seu texto.
É claro que em toda associação ha os invejosos. Estes poucos confrades se espantavam com sua crescente notoriedade internacional, seus prêmios, suas viagens e suas traduções em importantes e verdadeiras editoras e sem aquele belo apoio dos partidões ou favores governamentais. Seu texto versa praticamente sobre os infindaveis debates entre vaidades e egos literarios e isto não faz jus à estatura intelectual que o poeta, ensaista, romancista, escritor infantil e tradutor possuia.
Lêdo merecia um outro tipo de homenagem da revista Piaui. O momento de sua morte pedia algo digno.
Mas sera que a sua revista é de reflexão e pensamento?
Ou o problema da mediocridade é so seu?
Como lhe disse por telefone, nunca li nem tive em minhas mãos nenhum numero da revista Piaui, pois moro fora do Brasil ha treze anos.
Lendo seu artigo, parece que estou lendo uma coluna social dada a pobreza de idéias e a falta de referências. Você e a revista perderam a oportunidade de citar a intensa atividade intelectual, literaria e afetiva que Lêdo teve no Brasil e no exterior com Marques Rebello, Manuel Bandeira, João Cabral de Mello Neto, Celso Lafer, Nélida Pinõn, Ivan Junqueira, Iberê Camargo, Sabato Magaldi, Emeric Marcier, Milton Dacosta, Ione Saldanha, Nelson Rodrigues, Cees Nooteboom, Carlos Montemayor, Antonio Gamoneda, Kerry Keys, Antonio Pereira, Juan Carlos Mestre, Martin Lopez-Vega, Octavio Paz, Philippe Delaveau, Luis Amaro, Eugenio Lisboa, Eugenio de Andrade e inumeros outros. É provavel que você e seus editores desconheçam a maioria destes intelectuais e artistas ou nem se interessaram em conhece-los, pois trata-se de um artigo preguiçoso, preconceituoso e acusativo sobre quem não esta mais aqui. Ou pior ainda, não é um caso de ignorância, e sim de proposito e ma fé. Você tentou pegar carona na notoriedade do Lêdo, como muitos fazem. A revista não disse que ele era um escritor consagrado e respeitado dentro e fora do Brasil traduzido em diversas linguas. Traçou sim um perfil pifio de brigão, criador de caso, irônico e sarcastico vinte e quatro horas por dia. Não era assim. As pessoas não podem ser reduzidas a estereotipos desta forma. Você e seus editores deviam ter lido as matérias que sairam no El Pais, El Mundo, ABC, e aprender a fazer um pouco de jornalismo sério que melhore a vida das pessoas e perceber que ha algo além e mais profundo na cultura. Lêdo foi traduzido na Espanha, México, Italia, Lituania, Inglaterra, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos, na maioria dos paises da América Central e Latina, etc…
Também podiam ter citado a sua estadia como convidado na Residência de los Estudiantes em Madri, lugar onde passaram temporadas Einstein, Paul Valéry, Salvador Dali, Stravinsky, Walter Gropius, Calder, Marie Curie, etc. E onde Lêdo lançou Nido de Serpientes no ano passado com apresentação de outro grande poeta espanhol Luis Antonio de Villena.
Ainda poderiam ter dito que o Lêdo ganhou o prêmio Casa de las Américas de poesia com o livro Réquiem, o prêmio Rosalia de Castro, o prêmio Leteo, o prêmio Walmap, o prêmio Jabuti, entre muitos outros.
Ao contrario, o texto é quase inteiramente dedicado a pequenezas e futricas que so interessam ao publico despreparado e ignorante. Estranhei seu texto do começo ao fim pois ontem mesmo me caiu nas mãos o Jornal de Letras de Lisboa n° 1103, o qual, sugiro que você e seu editor e colegas de revista leiam e aprendam com ele, e que faz, ai sim, uma bela homenagem de varias paginas voltadas para a grande arte e literatura e não para as entropias deste mundo.
Francamente, todos sairam perdendo com seu artigo com exceção das latas de lixo. Penso que os grandes criadores devem ser medidos pela sua obra. Quem quiser conhecer o Lêdo Ivo que leia seus livros.
Faltou na minha opinião humanidade, espiritualidade, respeito e profundidade. Você tentou transformar um grande intelectual numa caricatura.
Sugiro para você e para a revista, e gostaria que você me passasse o email ou endereço e nome do editor da revista, para que no futuro, façam algo que tenha a ver com arte e literatura. Vocês estão devendo isso. Afinal de contas o Brasil não perdeu um escritor, e sim um de seus mais importantes.
So os grandes criadores como o Lêdo tem independência aos cânones acadêmicos, politicos e estéticos.
Claudio, tenho medo do Brasil pois tenho medo de gente como você.
Estou com nojo de você e do artigo que você escreveu, e do tipo de jornalismo que vocês fazem. Sei que muitas pessoas pensam da mesma forma.
Que vergonha!
Gonçalo Ivo.
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