Balada do Desespero
Quem quiser ledo viver
saiba-se desesperar.
D. João de Menezes
Se eu desespero é que ledo
quero viver na alegria
seja tarde ou seja cedo
Seja de noite ou de dia.
Desespero mais houvera
eu não desesperaria.
Desesperar é querer
pois quem desespera espera
antes que se ponha o dia
de duas águas beber.
São águas da mesma fonte
paridas no mesmo monte :
a água clara da alegria
e a água salobra da mágoa
que, de amarga, sabe a lágrima.
Desespero mais houvera
e nele me encontraria
pois somente no exagero
de existir mais desespero
é que está minha alegria
como na fonte dormida
dorme uma água emudecida
à espera de ser bebida.
Desespero mais houvera
minha sede mataria
no poço do desespero
que guarda a minha alegria.
Quem espera, desespera.
E mais desespero houvera
mais esperança haveria
de alcançar desesperado
a esperança e a alegria.
Quanto mais noite anoitece
mais claro se torna o dia.
Quanto mais rosa fenece
e mais floresce o jardim.
Que haja desespero em mim
e em todo o meu esperar
para que eu possa ser ledo
e viver sem dor ou medo
de saber desesperar.
Págs. 42,43
Lêdo Ivo
Livro Mormaço
Editora Contra Capa,
Rio de Janeiro, 2013
ISBN 978-85-7740-147-5
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