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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

CARONTE (1/2), CECILIA MEIRELES


CARONTE

Caronte, juntos agora remaremos:
eu com a música, tu com os remos.

Meus pais, meus avós, meus irmãos,
já também vieram, pelas tuas mãos.

Mas eu sempre fui a mais marinheira:
trata-me como tua companheira.

Fala-me das coisas que estão por aqui,
das águas, das névoas, dos peixes, de ti.

Que mundo tão suave ! Que barca tão calma !
Meu corpo não viste: sou alma.

Doce é deixar-se, e ternura o fim
do que se amava. Quem soube de mim ?

Dize: a voz dos homens fala-nos, ainda ?
Não, que antes do meio sua voz é finda.

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