SERMÃO DE BRASÍLIA
Murilo Moreira Veras
Governantes e governados,
vós que tendes fome e sede de justiça
— Ouvi-nos.
Por que na política de hoje
buscais nos atos e fatos
a sentença de dois pesos
e duas medidas,
quando o equânime é a garantia do perfeito
equilíbrio da razão?
Não sabeis que a bondade, a sinceridade
devam ser perenes em vossos passos?
Que é com sabedoria que separamos o joio do trigo?
Que deveis misericórdia nas cortes de julgamentos?
Grandes e poderosos são os que apregoam
a ousadia da força — falaciosos e energúmenos
também o fazem.
Aplaudi os que na audácia das ações sabem perdoar,
da humildade se valer.
Em vez da vingança, da fúria,
a singeleza do poder.
Gesto de humildade não significa o arrego vil,
fraqueza de caráter.
Ao contrário, é ato de grandeza, bravura interior.
Lembrai-vos do Sermão da Montanha em que o
Mestre da Galileia nos ensina:
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque
alcançarão a misericórdia.”
Por que recorrer à força da razão em vez da
razão da força, à medida do juízo em vez da
fúria das paixões?
“O coração do sábio — reza o Eclesiastes —
está à sua direita; o coração do insensato
à sua esquerda.”
O que julgais ser fraqueza na luta, retroceder
simboliza bom senso, trégua de esperança,
O lutador nem sempre é o vingador, mas o
mediador sensato na refrega.
A política é à busca da justa polis, dir-vos-ei,
senhores da guerra.
Vence na vida, quem vence o medo e a morte.
“Caminhai sempre para frente e a confiança vos
acompanhará”
Urge que penseis o que é ser justo neste rincão de
dores e sofreres.
Tristeza nunca é o melhor caminho à vereda da salvação
— um gesto de brandura vale mais que a fúria da
paixão.
A imperfeição não se exime na mais lídima das perfeições.
A fúria suaviza-se com a compaixão, a emoção mesmo
desabrida, com a compreensão.
Reinar é governar a polis, saber servir sobretudo,
não significa leniência, covardia, traição.
Governar é conduzir com sapiência
a contradita dos contrários às lides conjunturais.
Gerir os adversos — a sabedoria do sábio Rei.
Ó juízes dos códices, e dos acórdãos,
acaso vestis a manta dos fariseus dos templos
esquecestes que a ética e a moral suavizam
a rigidez do código de Hamurabi?
Dizei Ecce Homo — este é o homem das incertezas
e desenganos.
Eu vos direi, à voz da razão.
É um homem, um simples viajor do tempo
que ousou tomar as rédeas deste ainda efêmero evoluir
de nossas plagas verde-amarelas.
Com seus debacles, sofridos e havidos
erráticos rivais dificultam-lhe os passos, devido
o fanatismo ideológico, os compadrios.
Ecce Homo — sim, mas capaz de gesto de grandeza, magnânimo,
como foi este: Paz em benefício da Nação!
Bsb, 12.09.21
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