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domingo, 30 de junho de 2013

Academia (1/2)


ELOCUÇÃO POÉTICA DE RECEPÇÃO 

A MARCO COIATELLI

PELO   ACADÊMICO   MURILO   MOREIRA   VERAS

 

 

De novo o  Parnaso é desperto,

não à evocação

do helênico braço de Leônidas

no desfiladeiro de Termópilas,

– a renhida batalha dos 300 heróis espartanos –

mas em louvor à sábia Atena

ao som da lira lírica de Apolo.

Homero já transpôs as intransponíveis muralhas

de Ílion,

vencida pelo Cavalo Armado dos Aqueus,

Aquiles quebrou o encanto do invencível Heitor.

Chamas já devoram a cidadela do rei Príamo.

‘Stamos em pleno mar e ondas atávicas

se elevam aos umbrais místicos da aventura.

Libertemo-nos todos das algemas da inércia

e abram-se, doravante, os pórticos

deste Parnaso das Letras.

Eu me transformo em Virgílio redivivo,

conduzirei em comédia edênica

o discípulo Marco Coiatelli, com quem me identifico

– qual novo ressuscitado Dante.

Renovemos, pois, nosso Panteon Brasílico

e saudemos o novel acólito

que nos honra com seu lírico cabedal,

a literatura a correr-lhe nas veias

em profusão de sonhos.

Como teu Mestre – nesta hora máxima –

ponho-me a guiar-te os passos

pelos escaninhos argênteos dessas veredas,

se não são as do Grande Sertão iluminado,

são fluídos fúlgidos de eloquência,

mercê dos retóricos condiscípulos

que por estas letras trilham.

Orienta-nos nesta empresa, gentil-homem,

de profícuas e gentílicas evocações,

nobre centurião literário cujas diretrizes

nossa Academia segue,

ele, poeta e prosador de grande mérito,

porta-voz da Capital da Esperança.

Outros integram esta Távola de Escribas,

são corifeus de muitas luzes e feitos,

homens de letras e magistérios, poetas de estação,

dignatários  das mais límpidas estirpes,

laboriosos cantantes,

a semear este campo ínclito,

feito de letras e sonhos.

Um poeta evadiu-se de repente do Olympo

das liras,

e cultiva essas nossas terras insones,

povoando-as de astros, pérolas e míticas estrelas,

artífice às asperezas do sertão cearense,

para além do azul daquelas serras onde nasceu Iracema

– Serra Azul, o poeta.

E outros mais novos se fazem presentes,

veros intérpretes de horizontes,

lusófonos,  com o luzir límpido

de seus ofícios,

peritos da alma, luminares psicólogos,

que se descobrem também poeticistas.

Eis que em nosso templo agora ingressa

uma Cecília Meireles rediviva,

à leitura solidária afeita,

flor das minas jornalísticas.

 

Preclaros Acadêmicos.

 

É a Arcádia radiante e radiosa que ascende,

à busca de lúcidos olhares

a justificar nosso existir planaltino.

Apressa-te, pois, ensarilha as armas

de teus mais belos sonhos,

os quais, sabemo-los, são expectantes

como as rútilas estrelas.

Afinal, ó forasteiro das letras amanhecidas,

onde nascestes e o que trazes de opções

nos teus alforjes?

Acaso o caleidoscópio de teus fazeres nos arrebata?

Quais as tuas ousadas oferendas?

Qual o teu campo de ação para que

este humilde mestre

te conduza ao Pórtico Acadêmico?

No auge do helênico porte,  tu me respondes:

“Nasci nas plagas da Maravilhosa Cidade,

o abraço fraterno do Corcovado recebi,

em seus eflúvios benfazejos me refugio,

insone de luz e de esperança.

Sou um fugitivo, um viandante, formado

nas trilhas de Emaús, se aprendiz de monge fui

no Mosteiro de São Bento,

ali, me tornei discípulo da verdade,  

aprendi a brandir as brancas armas do saber

e com elas o artifício de viver.”

É assim com esse dizer honesto e simples

que o apóstolo ora se apresenta,

um sorriso a iluminar-lhe a pupila

interrogante.

Minhas dádivas – diz ele – são os livros

que escrevi e escrevo, narrativas infantis,

estórias do hoje e do amanhã.”

 

Timoneiros Acadêmicos.

 

Este é o Marco Coiatelli

– o mais novo discípulo de Emaús,

escriba da literatura.

Coiatelli escreve livros infantis

ou  para adultos da infância?

Novel Saint-Exupéry renascendo brasileiro?

Longe foi nosso viandante literário,

Emaús propiciou-lhe o ensejo de se abeberar,

nos maiores clássicos da literatura

infantil.

Refugia-se em Esopo e bebe no córrego

de seu afluente francês,

La Fontaine sempre renovado

e a mitologia de suas encantadoras estórias,

extraídas do velho sábio grego.

E por que não também em Monteiro Lobato?

As peripécias de Emília e as prosopopeias

do Visconde de Sabugosa não estão escondidas

em balões coloridos e nas quixotescas façanhas

do Jabuti & da Tartaruga, em Coiatelli?

Mas Coiatelli não é La Fontaine nem Monteiro Lobato

e ele começa assim a história de “Jabuti e Tartaruga”:

“... Era um reino muito, muito antigo, onde viviam

um rei e uma rainha, já bem velhinhos.

Durante toda a vida dos dois naquele reino

maravilhoso, rei e rainha tiveram de tudo,

t-u-d-o, tudinho mesmo o que queriam.

De sorvete a avião, de balinha a carrão,

bastava pensar em algo e acreditar

que a coisa aparecia...”

É conhecido o começo do “Pequeno Príncipe”:

“Quando eu tinha seis anos, vi uma vez

uma magnífica figura num livro 

sobre florestas virgens,    chamado

“Histórias Verdadeiras”.

Representava uma serpente engolindo uma lebre.”

Em Coiatelli, o rei e a rainha tinham

um Jabuti e uma Tartaruga.

O Jabuti era muito perguntador,

“questionava tudo, de frente para trás,

de trás para frente e vice-versa.”

Em Saint-Exupéry o personagem perguntador

desenha um chapéu, mostra a um adulto

e lhe pergunta se a figura não lhe dá medo.

O adulto então responde:

Por que ter medo de um simples chapéu?”

E o pequeno sábio retruca:

– Acontece que não desenhei um chapéu,

mas uma jiboia que engoliu um elefante.

O Jabuti de Coiatelli também sabe ser irônico,

era um perguntador militante.

A Tartaruga, não “... era mais velha, mais sábia,

gostava muito de ler, de cabeça para baixo,

estudar de lado e explicar em toda direção.

Pensava muito e era, dos dois, a voz da razão.”

E era assim “os únicos capazes de alegrar

rei e rainha naqueles dias entristecidos.”    

Esopo, La Fontaine, os Irmãos Grimm ou Saint-Exupéry?

Vo-los direi que Coiatelli se inspirou em todos,

mas abrasileirou seus personagens.

profetizou os sonhos de nossos infantes.

“Julia e os Balões” começa assim:

“Julia adorava fazer balões de papel. Tinha grandão,

do tamanho de um avião e pequenininho,

do tamanho de um dedinho.”

Balões de fantasia ou fantasia de balões?

Balões e mais balões, somente de sonhos,

balões de fogo dos adultos

são balões assassinos, produzem incêndios

e destroem as cidades – o autor exorciza.

Todas as crianças já sabem e a Julia de Coiatelli

também.

 

Nobres Polígrafos.

 

Essas invenções – sonhos lúdicos

ou lúcidas esperanças – foram escritas

para crianças

ou para nós mesmos,  transformados em crianças?

E nosso ousado viandante lírico de Emaús

nos interroga a nós, baloeiros da razão,

ontologicamente:

“Vocês são felizes vivendo assim?

– perguntou Julia.

– Somos muito felizes com as surpresas da vida,

e, enquanto não partimos, brincamos de

tornar alguém mais feliz.”

Pois enquanto nosso homem de Emaús

surpreende com seus brinquedos de sonhos,

ele também brinca pela vida afora

com  sonhos verdadeiros,

semeia  trabalhos, polígrafo e poliglota que é,

de mil feitos e outras mil artes.

Pertence à Confraria de Bibliófilos do Brasil,

polvilha a internet com pílulas alegres de otimismo,

colabora  em planos e programação de museus:

Marco Coiatelli é um seven-trompet-man,

               novel Marco Polo,

maravilhas desvendando,

por estrangeiras plagas ele navega.

montado no quixotesco Rossinante de sua fé.

Patriota, sem ignaros ufanismos,

nosso fiandeiro de ideias

os nossos clássicos modernos também aclama

– Lêdo Ivo um dos favoritos.

Ouçamos de Lêdo Ivo este poema:

 

 

               “Saindo da Escuridão

 

Dai-me o silêncio das pedras

que caminham no horizonte

e a claridade das águas

que jorram das fontes.

 

               Tudo o que desejo

à noite é sombra.

Uma estrela atenta

lava as manchas do meu sono.

 

Só os instantes perduram

no dia puro e perdido.

São ninhos que guardam sonhos

 

Ilumino a escuridão.

Vejo as sílabas da noite

espalhadas pelo chão.”

 

 

É hora de cerrar a cortina deste Alquímico Teatro.

Falamos de boabás, rosas falantes, estrelas sorridentes

balões coloridos e um mundo de outros heróis em ação.

Mas, aqui, no palco de nossas vidas

adultas,

em meio a sérios e tão renomados Acadêmicos,

nosso mágico Coiatelli

não nos brinda com Pequenos Príncipes,

bonecas falantes, encantados reinos,

ele  nos oferece sonhos, fantásticos sonhos,

os quais construiu com o realismo de seus próprios sonhos

de criança em ação.

 

 Corifeus das Letras.

 

Ouvi-me – que já se delonga o Canto.

Alcemo-nos aos degraus deste nobre Conciliábulo.

Minha missão ora se cumpre.

O meu pupilo de meu auxílio se desprende,

pois ascende aos áureos pórticos,

sob o olhar de uma Beatriz rediviva,

que o transportará, qual humílimo Dante,

ao Paraíso.





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