No domingo que passou comecei a participar de um grupo de estudos sobre o perdão, proposto por dois amigos. Mas na verdade já estávamos no planejamento dos estudos há mais tempo, lendo o livro proposto, trocando mensagens sobre o tema e, da minha parte, refletindo muito a respeito do tema.
Muitas vezes é um termo banal. Pisamos no pé de uma pessoa e dizemos automaticamente: perdão. Mas o perdão em si, é algo muito sério e importante, ouso dizer, essencial para uma vida mais plena e feliz.
Na vida é comum acumularmos mágoas, há pessoas que se orgulham de ser rancorosas e “nunca” esquecer uma ofensa recebida. Eu até respeito essa posição, mas confesso que tenho muita pena dessas pessoas. As mágoas são más-águas que podem nos afogar por anos a fio, não deixando espaço para respirarmos livremente os ares da alegria.
Fisicamente, as mágoas ficam armazenadas na bexiga. Pessoas que guardam muitas mágoas costumam urinar pouco, o que ocasiona o armazenamento no corpo de algo que já deveria ter sido expulso há muito tempo. Então, se você quer se tornar uma pessoa com menos mágoas, a primeira providência é beber mais água (e outros líquidos saudáveis como chás e sucos) e urinar mais. Muitos pacientes meus fizeram apenas isso e perceberam mudanças significativas.
O autoconhecimento e a auto percepção também ajudam muito. Quanto mais nos conhecemos, mais cientes nos tornamos de nossas fraquezas e dificuldade e mais condescendentes poderemos ser com as alheias. Na maioria das vezes a gente se magoa com base no pensamento: eu nunca faria isso com essa pessoa. O que nem sempre corresponde à realidade. Todos somos capazes de ofender, chatear, agredir os outros. O que nos diferencia é a capacidade de perceber o erro, nos desculpar e tentar não repetir.
Nem sempre a pessoa com quem você se magoou sabe que isso ocorreu, pois o que ela fez não teve a intenção de te prejudicar, embora você perceba dessa forma. Quando somos muito perfeccionistas e exigentes, qualquer pequeno deslize que o outro cometa pode ser sentido como uma ofensa, o que pode não corresponder exatamente à verdade.
Por exemplo, você tem uma grande amiga, com quem sai muitas vezes, a quem convida para sua casa e seus programas. Ai fica sabendo que ela saiu no final de semana com outras pessoas e não te convidou. Fica magoada. Na verdade ninguém tem a obrigação de chamar ninguém para nada. O fato de vocês saírem sempre não obriga sua amiga a te convidar todas as vezes. De repente o grupo de amigos não tinha nada a ver contigo, ela pode ter sido convidada de última hora e você não gostar de fazer programas a não ser com planejamento muito antecipado, ou seja, são muitas as opções. A realidade é que sair com outros amigos não é uma ofensa a você. Vale a pena você ficar até sem falar com ela ou ser grossa por isso?
No trânsito as pessoas muitas vezes são mal educadas, agressivas, rudes, mas isso não é pessoal com ninguém. É a forma delas serem, de se relacionarem na vida. Vale a pena ficar estressado e remoendo uma ‘fechada’ que recebeu no trânsito por todo o dia?
No trabalho nem sempre os colegas são leais, companheiros, bem educados. Mas você precisa mesmo embarcar nesse modo de ser ou se sentir profundamente magoado cada vez que um deles não agir corretamente segundo sua opinião?
Na família as relações são muito estreitas e nem sempre levadas com afeto e respeito. Você pode não gostar disso e não precisa agir como os outros agem, mas é interessante perceber que as pessoas muitas vezes são assim mesmo, padecem de uma incapacidade de exercitar a doçura e não é nada pessoal com você.
Em todas essas situações e muitas outras, a mágoa é uma questão de escolha. Isso mesmo, você pode escolher ficar magoado ou não. Eu costumo usar a regra da uma semana, 3 meses, 3 anos. Se algo me chateia eu me pergunto: isso vai ser importante daqui a uma semana? Se eu achar que sim, continuo: e daqui a 3 meses? E se continuar achando que sim, insisto: e daqui a 3 anos. Na grande maioria das vezes aquele descontentamento não supera os meses, quem dirá os anos... Então, se não é algo tão significativo em minha vida com o passar do tempo, não vale a pena dedicar pensamentos e mágoas a ele.
A mágoa é um peso que eu carrego esperando que o outro se canse. Mas ele nem sabe que estou sobrecarregada com esse peso, então pra ele não faz nenhuma diferença. Mas para as minhas costas faz!
Perdoar é um ato que deve ser praticado nem que seja por egoísmo, para que eu me liberte de pesos que ando carregando desnecessariamente. O que o outro vai fazer com o meu perdão não interessa. Muitas vezes ele nem precisa saber que foi perdoado, assim como nem soube que eu estava magoada. O perdão é pessoal, faz diferença para o ser que perdoa. As repercussões acontecem em vários níveis, mas não são o principal objetivo.
Quando eu me torno mais capaz de perdoar as pequenas ofensas do dia-a-dia, vou melhorando minha percepção da real importância das coisas e, consequentemente, aumento minha capacidade de relevar ofensas mais graves e até mesmo gravíssimas. Com isso me torno uma pessoa mais leve, relaciono-me melhor com as pessoas e comigo mesma.
Então, faça uma lista (mental ou escrita) de mágoas e ressentimentos que vem alimentando em seu coração. Reflita sobre cada item, aplique a regra da ‘uma semana, 3 meses, 3 anos’ e escolha continuar carregando o peso ou livrar-se dele.
Na internet existem várias orações do perdão, ligadas a várias religiões ou não. Procure uma que fale a seu coração. E faça pelo menos uma vez por dia, mesmo que não sinta a menor vontade em seu íntimo. Com o passar dos dias e a repetição da oração, uma mudança vai ocorrendo em seu interior, até chegar o dia em que você vai estar recitando aquelas palavras sentindo-as em todo seu ser. Esse dia, em que você realmente alcançou o perdão, será muito especial para o resto da sua existência.
Não é um assunto que possa ser abordado em poucas palavras, pois há muita complexidade envolvida. Mas acredito que esse texto possa ser um primeiro passo para te ajudar a refletir sobre a necessidade do perdão em sua vida e, talvez, iniciar uma mudança de comportamento pela sua libertação.
Caso você se interesse em saber mais sobre o tema, vou colocar a sugestão de textos no final desse email para te ajudar. Se você conhecer outros e quiser indicar, será uma ótima contribuição.
Quer compartilhar comigo sua opinião? Sugerir outro tema? Concordar, discordar, compartilhar? Será um prazer pra mim.
Muito obrigada por sua companhia aqui semanalmente.
Um abraço e tenha uma ótima semana.
1 – O poder do perdão – Fred Luskin – O livro está esgotado, mas é possível encontrar em sebos virtuais como o www.estantevirtual.com.br e www.traca.com.br
2 – Aprenda a perdoar – June Hunt
3 – O perdão como caminho – Alberto Almeida
4 – Revista Vida Simples – Fevereiro/2015
Adorei o texto!
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirA escrita da Andrea é um colo virtual! Amooo! Perfeito e recheado de sentimento bom!
ResponderExcluirGrata pelo carinho, Simone. :)
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