Quem pensa ARTE no Brasil ? Numa nova entrevista, a Galeria Nóbrega faz perguntas a PEDRO MASTROBUONO. A primeira pergunta e resposta estão a seguir:
PERGUNTA 1- Em suas múltiplas atividades ( advogado especializado em direito autoral, Vice-Presidente da Comissão de Direito às Artes da OAB, Presidente do Instituto Volpi, Conselheiro do Instituto Leonilson, Vice-Presidente da Associação de Amigos do MAC-USP...) , todas articuladas por seu conhecimento e sensibilidade para as Artes, quais são os valores, os princípios, que norteiam sua atuação pessoal ? Em contraponto, cada uma destas atividades está em diferente momento de maturação. Qual então são as prioridades, em sua visão ?
RESPOSTA:
Minha atuação encontra coerência e sustentação em um tripé.
A primeira perna é distinção entre “conteúdo” e “veículo”. Os tempos atuais simplificaram bastante a percepção disso. Hoje em dia, a multiplicidade de veículos permite que uma mesma informação seja transmitida por WhatsApp, Messenger, Facebook, e-mails diversos (só no meu celular, recebo três caixas de entradas distintas), telefonia móvel e fixa, telegramas, Sedex e por aí afora. Então, pergunto: alguém muito querido, verdadeiramente amado, acaba de falecer. A dor e o desespero iriam desaparecer se a notícia tivesse sido dada por WhatsApp e não por e-mail? O sofrimento é inerente ao drama humano, decorre da perda. O conteúdo é avassalador, não o veículo.A constatação de uma traição grave. Do ponto de vista das emoções múltiplas (ódio, revolta, angústia, desorientação, tristeza), pergunto: uma fotografia do ato explícito de infidelidade ou a gravação de uma conversa picante entre os amantes, por acaso a pessoa traída sofreria menos porque tomou consciência do conteúdo pelo sentido da visão ao invés da audição?
A segunda perna do tripé é bilateralidade dos nossos cérebros. Como bem se sabe, o hemisfério esquerdo é responsável pelo pensamento lógico e por nossa competência comunicativa. Por sua vez, o hemisfério direito é responsável pelo pensamento dito simbólico, pelas emoções e por nossa criatividade.
Na minha maneira de compreender as coisas, as sete artes, ditas clássicas, são meros veículos. Nada além disso. A primeira, “música”, transmite-nos sua mensagem pelo som. A segunda, “artes cênicas”, alcança-nos pela performance teatral ou pela coreografia, dança, seres humanos em movimento. A terceira, “pintura”, parafraseando Volpi, “é uma questão de linha, forma é cor”. A quarta, “escultura”, vale-se do volume, da textura, da tridimensionalidade. A quinta, “arquitetura”, pelos espaços e sua capacidade de interação conosco. A sexta, “literatura”, por fomentar nossa capacidade de imaginação, quase sem limites. Já a sétima, “cinema”, que é a mais consumida de todas nos dias atuais, integra elementos de todas as manifestações anteriores.
Sem pieguices. Sem argumentos apaixonados. O convívio com Arte, muitas vezes, devolve-nos a alegria, arranca sorrisos, deixando-nos extasiados ainda que em comezinhas situações do cotidiano. Não obstante, em outras ocasiões, coloca-nos quase em estado de choque. E por quê? Justamente porque vivenciamos a dor do artista em sua real intensidade, dividindo com ele as sensações em estado puro. Conexão direta. Fio desencapado.
Especialmente as ditas “terceira” e “quarta” manifestações artísticas são de uma crueza inquestionável. Tal como um cigarro sem filtro, um vinho de 14% ou mais. Por certo que consumo música e literatura, sem dúvida, mas sou dependente de pintura. Se meu anseio é por poesia, consumo Leonilson. Se minha necessidade é apaziguar meu espírito, consumo Volpi e sua cromoterapia com claros efeitos ansiolíticos. Para mim, suas harmonias nirvânicas funcionam mais que uma dose de destilado no fim do dia. Afetam, em frações de segundo, áreas do meu cérebro, controlando minha ansiedad e. Já outros pintores, como José Antonio da Silva por exemplo, mudam meu o estado de alerta, como cafeína.
Na minha maneira de compreender as coisas, as sete artes, ditas clássicas, são meros veículos. Nada além disso. A primeira, “música”, transmite-nos sua mensagem pelo som. A segunda, “artes cênicas”, alcança-nos pela performance teatral ou pela coreografia, dança, seres humanos em movimento. A terceira, “pintura”, parafraseando Volpi, “é uma questão de linha, forma é cor”. A quarta, “escultura”, vale-se do volume, da textura, da tridimensionalidade. A quinta, “arquitetura”, pelos espaços e sua capacidade de interação conosco. A sexta, “literatura”, por fomentar nossa capacidade de imaginação, quase sem limites. Já a sétima, “cinema”, que é a mais consumida de todas nos dias atuais, integra elementos de todas as manifestações anteriores.
Sem pieguices. Sem argumentos apaixonados. O convívio com Arte, muitas vezes, devolve-nos a alegria, arranca sorrisos, deixando-nos extasiados ainda que em comezinhas situações do cotidiano. Não obstante, em outras ocasiões, coloca-nos quase em estado de choque. E por quê? Justamente porque vivenciamos a dor do artista em sua real intensidade, dividindo com ele as sensações em estado puro. Conexão direta. Fio desencapado.
Especialmente as ditas “terceira” e “quarta” manifestações artísticas são de uma crueza inquestionável. Tal como um cigarro sem filtro, um vinho de 14% ou mais. Por certo que consumo música e literatura, sem dúvida, mas sou dependente de pintura. Se meu anseio é por poesia, consumo Leonilson. Se minha necessidade é apaziguar meu espírito, consumo Volpi e sua cromoterapia com claros efeitos ansiolíticos. Para mim, suas harmonias nirvânicas funcionam mais que uma dose de destilado no fim do dia. Afetam, em frações de segundo, áreas do meu cérebro, controlando minha ansiedad e. Já outros pintores, como José Antonio da Silva por exemplo, mudam meu o estado de alerta, como cafeína.
É bom lembrar que somos humanos, que nos emocionar é da nossa natureza. Não o contrário.
Por fim, a terceira perna do tripé. O elo de ligação entre as duas pernas de sustentação anteriores.
As carreiras jurídicas são todas pautadas nas relações humanas e seus dramas. Enquanto houver humanidade, existirão conflitos. Os operadores do direito penal ou de varas de família, por excelências, defrontam-se diariamente com as mazelas humanas mais profundas. Atos e respectiva motivação. Ciúmes, ganância, preconceito, xenofobia. Crimes, vítimas, dor, sofrimento, miséria.
Queira-se ou não, não há grandes diferenças entre uma “audiência” (criminal ou de família) e uma mostra cultural. Afinal de contas, não é exatamente isto que a arte, como mero veículo, esfrega nas nossas caras? Quem não se emociona diante da verdadeira pureza de um “Marcelino pão e vinho” ou, na outra extremidade do espectro, diante da pequenez e sordidez das personagens de Pedro Almodóvar?
Ninguém nunca parou para se perguntar a razão de tantos filmes de sucesso, cujo tema central são crimes e julgamentos? Quem não conhece a interpretação magistral de Henry Fonda em “Doze homens e uma sentença”?
Tudo aumenta o meu repertório de experiências. Não me interessa se o drama humano (conteúdo) chegou ao meu conhecimento por meu hemisfério direito ou pelo esquerdo. No mínimo, todas as emoções e experiências que compartilho, irão aumentar minha “massa muscular” enquanto profissional do direito, compreendendo melhor a complexidade humana.
As carreiras jurídicas são todas pautadas nas relações humanas e seus dramas. Enquanto houver humanidade, existirão conflitos. Os operadores do direito penal ou de varas de família, por excelências, defrontam-se diariamente com as mazelas humanas mais profundas. Atos e respectiva motivação. Ciúmes, ganância, preconceito, xenofobia. Crimes, vítimas, dor, sofrimento, miséria.
Queira-se ou não, não há grandes diferenças entre uma “audiência” (criminal ou de família) e uma mostra cultural. Afinal de contas, não é exatamente isto que a arte, como mero veículo, esfrega nas nossas caras? Quem não se emociona diante da verdadeira pureza de um “Marcelino pão e vinho” ou, na outra extremidade do espectro, diante da pequenez e sordidez das personagens de Pedro Almodóvar?
Ninguém nunca parou para se perguntar a razão de tantos filmes de sucesso, cujo tema central são crimes e julgamentos? Quem não conhece a interpretação magistral de Henry Fonda em “Doze homens e uma sentença”?
Tudo aumenta o meu repertório de experiências. Não me interessa se o drama humano (conteúdo) chegou ao meu conhecimento por meu hemisfério direito ou pelo esquerdo. No mínimo, todas as emoções e experiências que compartilho, irão aumentar minha “massa muscular” enquanto profissional do direito, compreendendo melhor a complexidade humana.
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