Na quarta resposta, Pedro Mastrobuono nos esclarece sobre assunto, que teve merecida cobertura da Imprensa. Seu testo contém história, sensibilidade e afirmação forte sobre o descaso do poder público com seus bens culturais.
4-Como está a questão da restauração do mural de Volpi no Palácio dos Arcos ? Sabemos que a solução evolui, em função de sua atuação.
Resposta:
O painel do Palácio Itamaraty, é tombado. Integrante, deste modo, do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Pode ser visto, inclusive à noite, refletido na lâmina d'água, por todos aqueles que visitam Brasília. Chefes de Estado.
Volpi e Oscar Niemeyer tinham uma predileção comum, ambos gostavam de comer no Ca’d´oro. Pouco se comenta, mas quando Alfredo Volpi criou o afresco "O SONHO DE DOM BOSCO", em homenagem ao patrono de Brasília, inspirou-se nas feições de Oscar Niemeyer, que achava graça disso. O edifício é também conhecido por “Palácio dos Arcos”, sendo certo que elementos de sua fachada aparecem claramente na composição criada por Volpi.
Para aqueles que não sabem, a fundação de Brasília é associada a profecia de São João Bosco, que previu o surgimento da Capital. Teria sonhado com ponto exato onde seria erguida, entre os paralelos 15º e 20º, local onde haveria um leito muito extenso e onde se formaria um lago.
O afresco do Itamaraty foi pintado em 1966, oito anos após as pinturas da Capela de Nossa Senhora de Fátima, que são de 1958. O retorno de Volpi a Brasília, para realização dessa nova empreitada, não se deve apenas a dupla Oscar Niemeyer e Bruno Giorgi. Desta vez, contou também com a sensibilidade do Embaixador Wladimir Murtinho, responsável pela área cultural do Ministério da Relações Exteriores. Foi Murtinho que encomendou o famoso Meteoro de Bruno Giorgi que fica do lado de fora do palácio.
Volpi guardava consigo, resistindo à pressão de seus colecionadores, os estudos sobre cartão das obras que realizou em Brasília. Guardava somente as versões que efetivamente pintou, desfazendo-se daquelas que não executou, como por exemplo O SONHO DE DOM BOSCO pintado só em tons terras, sem nada de azul, hoje em coleção particular.
O Embaixador Murtinho teve um lindíssimo São Miguel sobre tela, de rara beleza. Inédito, nunca reproduzido ou exibido. Volpi manteve consigo, até morrer, o estudo em cartão, hoje extraviado e judicialmente procurado pelo espólio do artista. Não é demasiado lembrar que a versão realmente executada do SONHO DE DOM BOSCO pintado só em tons de azul, foi apreendida e está devidamente depositada no MAC/USP, por força de um convênio firmado entre o museu e o Judiciário, que tive o privilégio de redigir, onde o Instituto Volpi figura como supervisor por meu intermédio.
Volpi e Bruno Giorgi tinham profundo orgulho dos trabalhos que realizaram em Brasília, justamente por entender como foi concebida, pensada como cidade símbolo de um país onde a Arte e a Cultura participam do processo decisório e, assim, dos destinos da nação. Não se trata apenas de um referencial do Modernismo brasileiro. É muito, muito mais do que isso.
Recentemente, tivemos a felicidade de ver uma linda obra de Volpi, com duas bandeirinhas pretas, escolhida como símbolo da Cultura Brasileira na EUROPALIA, edição sobre nosso país, nesta conceituadíssima feira internacional que celebra a herança cultural dos povos.
Quem convive comigo, sabe que, de há muito, insisto no entendimento, consagrado em nossa Constituição, de que a Cultura é importante elemento de formação de identidade. Friso sempre. Nossas músicas, nossas danças, a maneira pela qual professamos nossa fé. É, pois, através de nossas manifestações culturais que nos reconhecemos por iguais. Dando-nos o sentimento de pertencimento. Aliás, repito à exaustão, posto que verdadeiramente acredito nisso.
Há poucos dias, externei minha solidariedade a Maria Elisa, filha de Lúcio Costa. Quando da retirada de obras das obras dos Palácios do Planalto e Alvorada, enviadas para o RJ. Maria Elisa publicamente qualificou o episódio como “uma traição a Juscelino”
Nossa cultura não é assunto apenas de um Governo, qualquer que seja ele. Assim como as obras de arte que integram a Casa Branca não dizem respeito apenas aos recentes governos Bush, Clinton, Obama, Trump. Estamos falando de símbolos pátrios.
Queira-se ou não, esta não é uma questão de reservas técnicas deste ou daquele museu. Assim como não se trata deste ou aquele presidente. Deste ou daquele Governo. Trata-se da nossa Cultura, da nossa Identidade.
A indignação da filha de Lúcio Costa, também é a minha. Há um inegável descaso com nossos bens culturais. Pasmem, já é a segunda vez que O SONHO DE DOM BOSCO será restaurado. Na primeira oportunidade, estava ainda pior.
Infelizmente, é preciso ir a público e clamar por providências. Quando, na verdade, o Estado deveria ser o primeiro a zelar por aquilo que já é público. Grito e continuarei gritando, esbravejando.
Não adianta nada ficar de olho grande sobre bens privados, quando se maltrata o próprio Patrimônio Artístico.
No artigo publicado pelo ESTADO, digo com todas as letras que entendo por claro descaso e que sinto falta de uma política pública que demonstre eficácia, efetividade na proteção dos nossos bens culturais. A proteção ao patrimônio deveria começar pelo próprio Estado, dando o bom exemplo. Afinal, trata-se da nossa identidade.
Volpi, Oscar Niemeyer, Wladimir Murtinho e Lúcio Costa não mereciam nada disso.
Resposta:
O painel do Palácio Itamaraty, é tombado. Integrante, deste modo, do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Pode ser visto, inclusive à noite, refletido na lâmina d'água, por todos aqueles que visitam Brasília. Chefes de Estado.
Volpi e Oscar Niemeyer tinham uma predileção comum, ambos gostavam de comer no Ca’d´oro. Pouco se comenta, mas quando Alfredo Volpi criou o afresco "O SONHO DE DOM BOSCO", em homenagem ao patrono de Brasília, inspirou-se nas feições de Oscar Niemeyer, que achava graça disso. O edifício é também conhecido por “Palácio dos Arcos”, sendo certo que elementos de sua fachada aparecem claramente na composição criada por Volpi.
Para aqueles que não sabem, a fundação de Brasília é associada a profecia de São João Bosco, que previu o surgimento da Capital. Teria sonhado com ponto exato onde seria erguida, entre os paralelos 15º e 20º, local onde haveria um leito muito extenso e onde se formaria um lago.
O afresco do Itamaraty foi pintado em 1966, oito anos após as pinturas da Capela de Nossa Senhora de Fátima, que são de 1958. O retorno de Volpi a Brasília, para realização dessa nova empreitada, não se deve apenas a dupla Oscar Niemeyer e Bruno Giorgi. Desta vez, contou também com a sensibilidade do Embaixador Wladimir Murtinho, responsável pela área cultural do Ministério da Relações Exteriores. Foi Murtinho que encomendou o famoso Meteoro de Bruno Giorgi que fica do lado de fora do palácio.
Volpi guardava consigo, resistindo à pressão de seus colecionadores, os estudos sobre cartão das obras que realizou em Brasília. Guardava somente as versões que efetivamente pintou, desfazendo-se daquelas que não executou, como por exemplo O SONHO DE DOM BOSCO pintado só em tons terras, sem nada de azul, hoje em coleção particular.
O Embaixador Murtinho teve um lindíssimo São Miguel sobre tela, de rara beleza. Inédito, nunca reproduzido ou exibido. Volpi manteve consigo, até morrer, o estudo em cartão, hoje extraviado e judicialmente procurado pelo espólio do artista. Não é demasiado lembrar que a versão realmente executada do SONHO DE DOM BOSCO pintado só em tons de azul, foi apreendida e está devidamente depositada no MAC/USP, por força de um convênio firmado entre o museu e o Judiciário, que tive o privilégio de redigir, onde o Instituto Volpi figura como supervisor por meu intermédio.
Volpi e Bruno Giorgi tinham profundo orgulho dos trabalhos que realizaram em Brasília, justamente por entender como foi concebida, pensada como cidade símbolo de um país onde a Arte e a Cultura participam do processo decisório e, assim, dos destinos da nação. Não se trata apenas de um referencial do Modernismo brasileiro. É muito, muito mais do que isso.
Recentemente, tivemos a felicidade de ver uma linda obra de Volpi, com duas bandeirinhas pretas, escolhida como símbolo da Cultura Brasileira na EUROPALIA, edição sobre nosso país, nesta conceituadíssima feira internacional que celebra a herança cultural dos povos.
Quem convive comigo, sabe que, de há muito, insisto no entendimento, consagrado em nossa Constituição, de que a Cultura é importante elemento de formação de identidade. Friso sempre. Nossas músicas, nossas danças, a maneira pela qual professamos nossa fé. É, pois, através de nossas manifestações culturais que nos reconhecemos por iguais. Dando-nos o sentimento de pertencimento. Aliás, repito à exaustão, posto que verdadeiramente acredito nisso.
Há poucos dias, externei minha solidariedade a Maria Elisa, filha de Lúcio Costa. Quando da retirada de obras das obras dos Palácios do Planalto e Alvorada, enviadas para o RJ. Maria Elisa publicamente qualificou o episódio como “uma traição a Juscelino”
Nossa cultura não é assunto apenas de um Governo, qualquer que seja ele. Assim como as obras de arte que integram a Casa Branca não dizem respeito apenas aos recentes governos Bush, Clinton, Obama, Trump. Estamos falando de símbolos pátrios.
Queira-se ou não, esta não é uma questão de reservas técnicas deste ou daquele museu. Assim como não se trata deste ou aquele presidente. Deste ou daquele Governo. Trata-se da nossa Cultura, da nossa Identidade.
A indignação da filha de Lúcio Costa, também é a minha. Há um inegável descaso com nossos bens culturais. Pasmem, já é a segunda vez que O SONHO DE DOM BOSCO será restaurado. Na primeira oportunidade, estava ainda pior.
Infelizmente, é preciso ir a público e clamar por providências. Quando, na verdade, o Estado deveria ser o primeiro a zelar por aquilo que já é público. Grito e continuarei gritando, esbravejando.
Não adianta nada ficar de olho grande sobre bens privados, quando se maltrata o próprio Patrimônio Artístico.
No artigo publicado pelo ESTADO, digo com todas as letras que entendo por claro descaso e que sinto falta de uma política pública que demonstre eficácia, efetividade na proteção dos nossos bens culturais. A proteção ao patrimônio deveria começar pelo próprio Estado, dando o bom exemplo. Afinal, trata-se da nossa identidade.
Volpi, Oscar Niemeyer, Wladimir Murtinho e Lúcio Costa não mereciam nada disso.
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