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segunda-feira, 27 de abril de 2020

Augusto de Lima (1859-1934)





RISO E PRANTO


Duas frações o grande todo humano

Encerra: uma que ri, outra que chora.

Dúplice monstro, contrastado Jano,

Tem numa face - a noite, e noutra - a aurora.

 

Mas em seu seio eternamente mora,

Como o polipo no profundo oceano,

A dor que o riso mentiroso enflora,

A mesma dor que verte o pranto insano.

 

Basta que riso ou lágrima ressume

Da contração de um músculo irritado,

Temos amor, pesar, ódio ou ciúme.

 

Nem sempre o riso é uma expressão de agrado,

E às vezes quem mais chora se presume

Feliz, por parecer mais desgraçado.

 

                        (Símbolos, 1892)

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