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segunda-feira, 31 de maio de 2021

sábado, 8 de maio de 2021

BOOKS 3/2021





23.

Sueli Batista

A Chalana de Nhô É

Editora Studio Press



24.

George Simenon

Il Crocevia delle tre Vedove

Traduzione di Emanuela Muratori

La Nuit Du carrefour 

Adelphi



25.

Iris Borges

Passeando por Brasília 

Ilustrações de Romont Willy

Franco Editora



26.

Iris Borges

O Navio

Ilustrações de Dam d’Souza

Editora Elementar



27.

Frederico Brito e Thais Evangelista

O menino da pele Azul

Ilustrações de André Cerino

Franco Editora



28.

Iris Borges

Let’s take a look at my books

Illustration by Sami and Bill

Franco Editora



29.

George Simenon

Il delitto in Olanda

Un crime en Hollande

Traduzione di Ida Sassi 

Adelphi



30.

Walther Moreira Santos

O Macaco e o Tubarão 

Franco Editora



31.

Shakespeare 

Julius Caesar

Giulio Cesare

Traduzione di Rosanna Camerlingo

Bompiani 



32.

Marilda Castanha 

Texto e Ilustrações 

Fases da Lua e outros segredos 

Editora Peirópolis



33.

Shakespeare 

Antony and Cleopatra 

Antonio e Cleopatra

Traduzione di Gilberto Sacerdoti 

Bompiani 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Gonçalo Ivo in Dasartes.com.br

NA ESCURIDÃO

O hálito do imóvel. Um vulto rígido

de animal no azul, sua santidade.

Poderoso é o silêncio da pedra…

Georg Trakl

 

Alfred Leopold Isidor Kubin [1887–1959], em sua longa existência, foi, por imposição do tempo e da realidade tangível, uma das muitas testemunhas dos episódios mais complexos e absurdos de nossa história recente. Vivenciou o horror das guerras e da bomba H, o nascimento e a ascensão do nazismo, o fascismo, o populismo, as ditaduras totalitárias de ideologias de direita ou esquerda, as explorações imundas das colônias europeias na África e Ásia, e tantos outros desastres e disparates.

“Sou o organizador do incerto, do que tememos, da penumbra e do onírico”, diz o artista. E, como um imã a que quase tudo atrai, a obra de Alfred Kubin, essencialmente simbolista – e, portanto, radicalmente humana –, faz transbordar o inimaginável, extraindo do pesadelo, das compulsões, o que há de secreto em nossos medos e sentimentos. Em um texto datado de 1922, Sobre minhas experiências oníricas, Kubin escreve: “A vida é um sonho”.

Alfred Kubin, The Brood – Cat and Kittens,1902

A cidade de Viena, na virada do século XIX para o século XX, era um catalisador de corpos e almas. Deambulavam por ela Sigmund Freud, Ludwig Wittgenstein, Gustav Klimt, Egon Schiele, Oskar Kokoschka, Stefan Zweig…

As passagens de um século a outro são marcadas por ambiguidade e extrema excitação, pois, ao mesmo tempo que trazem esperança, inquirem de maneira pessimista e melancólica o porvir como um lugar a guardar o medo e a neurose.

Historicamente, a fertilidade artística e as evoluções e processos científicos, quase sempre, precedem momentos de tristeza, erosão espiritual e moral, convulsão e caos.

Meu olhar vaga no tempo. Me aproximo dos flagelos, sofrimentos e atrocidades impostos aos santos românicos. Caminho aos martírios dos apóstolos e às dúvidas dos filósofos de José de Ribera. A violência poética sempre esteve ao lado da arte, é uma arma que nutre o que é negro e primitivo.

Outono em Vargem Grande. Os troncos de lenha crepitam na lareira do ateliê.

Lamento

Sono e morte, as águias sombrias 

rondam-me a fronte a noite inteira: 

a áurea imagem do homem 

engole-a a onda fria 

da eternidade. Em recifes medonhos 

rompe-se o corpo purpúreo. 

E queixa-se a voz escura

sobre o mar.

Irmã de imensa melancolia,

olha: um barco assustado naufraga

sob estrelas,

na face calada da noite

Georg Trakl

Permaneço mudo em face dos delírios das imagens de Alfred Kubin. O Medo, A hora da morte, Não mentirás, O homem atormentado, Saturno, Enfermidade, A hora do sonho, Noite inclemente, Epidemia.

Saio no escuro. Piso o orvalho incerto, iluminado por uma lua quase ausente. O pássaro da manhã não tardará em trazer ordem e claridade ao mundo dos homens.

Angst, Alfred Kubin

Gonçalo Ivo

Vargem Grande, 20 de abril de 2021.

*Fragmentos de poemas de Georg Trakl na tradução de Marco Lucchesi, Numen Editora, 1990.