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quinta-feira, 30 de abril de 2015

SIMONE 25


Por vezes reconhecemo-nos nos outros. Passamos dias, horas ou variados momentos com pessoas diversas, numa distância emocional tamanha que sequer as conhecemos, apesar de diversas vezes tê-las encontrado.
E hoje me deparei com essa estranha sensação, de visualizar o outro sem vê-lo. De repente, por algum gesto, palavra ou sensação, vem o reconhecer-se no outro, não é identificação não, pois esta é imediata, e momentânea. Falo dessa sensação de que em algum momento, estivemos conectados a pessoas que convivemos, sem dar a devida atenção.
Quando parto da convicção pessoal, que nada é por acaso, e mais ainda que pessoas não se encontram sem uma razão maior, observar o efeito que o outro (ou outros) causa em mim, me deixou extasiada e perplexa.
Extasiada porque gosto da sensação de ser surpreendida pelo cotidianamente vivido e ignorado. Perplexa por não me permitir sempre esta sensação. Acho que acabo me boicotando, assim sem querer, pois poucas pessoas têm o prazer como eu tenho, de compartilhar-se.
E agora percebo o grande sentido na convivência com o outro, seja emocional, profissional ou ocasional, que é quando compartilhamos, e não importa o quê, mas tão somente o compartilhar.
Estou difusa hoje, mas não confusa. Eis meu contrassenso, ou seria dissenso? Ainda não defini.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

63 PAISES & 270 MIL VISITANTES




 1.  ALEMANHA
 2.  ANGOLA
 3.  AUSTRALIA
 4.  AUSTRIA
 5.  ARÁBIA SAUDITA
 6.  ARGENTINA
 7.  AZERBAIJÃO
 8.  BÉLGICA
 9.  BIELORÚSSIA
10. BRASIL
11. BULGARIA
12. CANADA
13. CHILE
14. CHINA
15. CINGAPURA
16. COLÔMBIA
17. CORÉIA DO SUL
18. CROÁCIA
19. DINAMARCA 
20. ESPANHA
21. EMIRADOS ARÁBES
22. EGITO
23. EQUADOR
24. ESTÔNIA
25. EUA
26. ITALIA
27. ÍNDIA
28. INDONÉSIA
29. IRAQUE
30. IRLANDA
31. ISRAEL
32. FINLÂNDIA
33. FRANÇA
34. GEORGIA
35. GRÉCIA
36. GUIANA FRANCESA
37. HOLANDA
38. JAPÃO
39. LÍBANO
40. LÍBIA
41. LITUÂNIA
42. LUXEMBURGO
43. MACEDÔNIA
44. MALÁSIA
45. MÉXICO
46. OMÃ
47. PARAGUAI
48. PERU
49. PORTUGAL
50. POLÔNIA 
51. QUÊNIA
52. REINO UNIDO
53. ROMÊNIA
54. RÚSSIA 
55. SÉRVIA
56. SUÉCIA
57. SUIÇA
58. TAIWAN 
59. TURQUIA
60. UCRÂNIA
61. URUGUAI 
62. VENEZUELA
63. ZIMBÁBUE

terça-feira, 28 de abril de 2015

CÁSSIA RODRIGUES



Felicidade descabelada

Outro dia me disseram que minha felicidade é despenteada!
E eu, nem por um instante pensei em refutar tal ideia
Ainda mais sabendo que as coisas boas da vida nos despenteia...
Vento no rosto, que traz aquela infinita sensação de liberdade, despenteia!
Se esparramar na areia da praia e sentir a luz do Sol penetrar todos os poros, despenteia!
Tomar banho de cachoeira e sentir aquele o gelo das águas a cortar a pele e quase nos fazer perder o fôlego, despenteia!
Dançar até sentir-se inebriada, despenteia!
Reunir-se com os amigos e rir das bobeiras sem sentido, despenteia!
Pular de alegria e de felicidade, despenteia!
Amasso com aquela pessoa que desperta todos os seus sentidos, despenteia!
Pois, que a felicidade então, nunca aprenda o caminho do salão de beleza, desconheça pente, secador, chapinha e todas essas coisas que colocam o cabelo em alinho

Por um mundo em que possamos viver em total desalinho!

segunda-feira, 27 de abril de 2015

SIMONE 34



Amanheci com a luz do sol batendo no meu rosto, 
vindo de uma fresta da janela mal fechada. 
Irritada com aquele feixe utilizei a pior visão do fato: 
“que não se fechou corretamente a janela”. 
Passada a irritação, 
me vi admirando a energia dourada 
daquela pequena quantidade de luz 
que insistentemente invadia aquele espaço escuro. 
Não é a janela que está “mal fechada”, 
são os olhos da alma que se fecharam pra luminosidade da vida. 
Abro dos olhos, sinto o calor da luz, 
revejo a fresta, recolho a irritação. 
Afinal o que havia era uma janela um pouco aberta, 
e uma insistente vontade da vida de iluminar 
e aquecer a alma e a certeza de que, 
vez em quando, precisamos mudar o nosso olhar.

sábado, 25 de abril de 2015

K. P. Kavafis (1863-1933)



 SUPPLICATION

The sea took a sailor into its depths. -
His mother, unaware, goes to light

a tall candle before the Virgin Mary,
that he return soon and meet with fine weather-

all the while turning windward her ear.
But as she prays and supplicates,

the icon listens, solemn and sad, well aware
that he'll never come back, the son she awaits.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Músicos



Minha Terna homenagem a esses queridos Músicos 
que transformam os espaços públicos 
em lugares melhores .

quinta-feira, 23 de abril de 2015

SIMONE 27



Amo a diversidade que existe em mim, 
com a mesma intensidade que a detesto.

Momentos há em sou espectadora 
de minha própria existência. 

Noutros sou protagonista. 
E na diversidade de sentimentos 
que em mim se manifesta, 
recolho os sonhos, 
escondo os medos, 
reparo arestas.

Vejo-me intensa. 
Desnudo desejos. 
Dispo minha sanidade e me torno inteira e plena. 
Quero toda a eternidade em mim 
pra não saber o que fazer com ela.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

MARIA OLIVIECKI !!!



Buenos amigos andan juntos
Cualquier que sea la diferencia
Sea rico o pobre
Siempre dan assistencia.

Juntos con las manos,
Siempre seran felices,
Un se rie del otro
Con las historias de sus raices.

Un pasa la energia al otro,
El otro saca la tristeza de un
Mientras un baila solo
El otro hace... tun, tun !

Con las manos juntas
Todo se hace posible
Hasta el mundo abrazar
Jugando y cantando
Para la vida "alegriar"

Un pasa la energia al otro,
El otro saca la tristeza de un
Mientras un da la mano al otro
El otro dice... alla vine mas un !

terça-feira, 21 de abril de 2015

CÁSSIA RODRIGUES


Dias e cores

Dias cinzas
dias azuis
dias violetas
dias amarelos
dias negros...
Uma aquarela de cores 
para todos os dias
sem cores!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

SIMONE 31



Não, não há melhor maneira de amar se não for pra ser inteiro! 
Inseguranças e medos? 
Podem até existir, mas que venham acompanhados 
da vontade de serem vencidos, 
e muita paixão: pela vida e por mim. 

Sim, você pode dizer pequenas mentiras, 
mas confesse a intenção de provocar! 

Deixe claro que não vai se entregar, 
porque assim, posso escolher me iludir ou não, 
até porque quem define o meu limite sou eu. 

Saiba: sou eu que escolho ser, ter e arremeter! 
Isso não é ilusão, é convicção de que eu, 
sendo a conquista, mereço saber do seu jogo por inteiro.

Sinta o quanto eu posso fazer você se perder, 
caso subestime as regras do jogo, 
que é meu enquanto eu for a caça !

Não, você não tem o direito de invadir meu território 
se não for pra ser dono! 
Pra explorar quem dá permissão sou eu.
Então, antes de pensar em fazer parte do meu mundo, 
seja dono do seu, pra começar!

domingo, 19 de abril de 2015

A Caligrafia de Dona Sofia

Federico García Lorca (1898-1936)



" Que se pierda en la plaza redonda de la luna. 

...


Que se pierda en la noche sin canto de los peces.

...

Duerme, vuela, reposa: i también se muere el mar !"




Trechos de la Poesía 
' Cuerpo Presente '
Federico García Lorca 
(1898-1936)

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Cruzes ...



Cada um com sua Cruz a carregar .
Umas Leves outras Pesadas .
Umas Visíveis outras Invisíveis .
Umas Queridas outras nem tanto .

Ao Calvário todos passaremos,
uns como testemunhas,
outros como companheiros. 






quinta-feira, 16 de abril de 2015

Abstract Of Expression

Companheiros de Viagem ...

Photo by MC

Dante e Whitman
Stevenson e Musil
Machado e Eça de Queiroz
Petrarca e Casanova
Shakespeare e Dickens 
Cervantes e Lope de Vega 
Borges e Gabriel Garcia Marques
Julio Cesare e Ariosto
D'Annunzio e Pound
Orazio e Machiavelli 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

GIUSEPPE DUCROT AL MACRO TESTACCIO

Photo by MC

Il prossimo 19 febbraio si inaugura negli spazi espositivi di MACRO Testaccio la grande mostra di Giuseppe Ducrot, promossa da Roma Capitale, Assessorato alla Cultura e Turismo - Sovrintendenza Capitolina ai Beni Culturali e curata da Achille Bonito Oliva. Una straordinaria galleria di sculture, dai grandi modelli in resina ai bozzetti in ceramica, dalle straordinarie invenzioni in terracotta invetriata alle scenografiche forme neobarocche, che si snoda in un percorso di inattese contaminazioni tematiche e materiche.
La mostra, aperta al pubblico dal 20 febbraio al 10 maggio 2015, riflette la libertà compositiva di Giuseppe Ducrot, derivata da una combinazione e contaminazione di stili e di riferimenti all’antico, riletti con una sensibilità moderna, un binomio scaturito da una riflessione concettuale approfondita su di una estetica dello scolpire, condotta in solitaria autonomia. Una tenace manualità che rappresenta l’anello di congiunzione fra antico e contemporaneo, raggiunta con una raffinatissima tecnica della lavorazione dei materiali.
Alla dissoluzione della scultura, condannata come “lingua morta” già da Arturo Martini, Ducrot contrappone una centralità di un tempo etico proprio dell’artista, nel quale convivono ideazione, gestazione e realizzazione del manufatto, lontano sideralmente dalla smaterializzazione dell’arte contemporanea, dal primato dell’idea sulla materia. Scrive, al riguardo, Bonito Oliva: “E' così che nella materia stessa della sua opera, che sia marmo o oro, terracotta o bronzo risuona l'interrogante elaborarsi della forma. Un corpo a corpo sensibile, ma non emotivo, perché ordito da un vigile sistema combinatorio, virtù del compimento e passione del dettaglio.”
Il suo instancabile procedere sulle traiettorie parallele della citazione e dell’invenzione, della costruzione e della dissoluzione della forma, viene presentato negli spazi di MACRO Testaccio, in un percorso espositivo articolato in quattro sezioni - Genius loci, Committenza, Materia, Vanitas - dedicate al processo creativo dello scultore romano.
Il genius loci si concretizza nel rapporto indissolubile che Ducrot ha maturato negli anni con la Città Eterna, la committenza pubblica ha rivestito un ruolo fondamentale nella produzione artistica dello scultore. Le opere realizzate per S. Maria degli Angeli, la Basilica di San Pietro, la cattedrale di Noto, tutte documentate nei vari modelli e bozzetti presentati in mostra, testimoniano un legame indissolubile con l’arte sacra, in un continuo reinventare forme e canoni scultorei che, pur guardando al classico, si contraddistinguono per una modernissima autonomia compositiva.

Mentre la materia costituisce una solidissima cartina di tornasole dell’abilità dimostrata negli anni da Ducrot di lavorare sulle gerarchie dei volumi, sui rapporti di pieno e di vuoto, sui raccordi e le soluzioni formali tra massa e superficie. Scolpisce il marmo, modella l’argilla e la ceramica invetriata, mentre con la tecnica della fusione a cera persa esegue nel corso degli anni bronzi di straordinaria fattura.
Infine, il tema della vanitas, posta al centro della riflessione condotta da Ducrot sulla caducità della materia e sulla finitudine dell’esistenza, viene incarnata dalla serie di teschi, presentati in mostra, che rimandano al continuo rifarsi di Ducrot alla grande arte barocca del passato, ridando vita ad una riflessione sul senso del limite, arricchita dalle inquietudini dell’uomo contemporaneo.
Il catalogo, edito da Quodlibet e curato da Achille Bonito Oliva e Benedetta Carpi de Resmini, contiene, oltre al saggio di Achille Bonito Oliva, testi di Sandro Barbagallo, Michele Brescia, Patrizia Cavalli e Niccolò Ammaniti e un ricco dossier di immagini contenente le opere esposte, corredato da una esaustiva bio-bibliografia dell’artista.
In mostra sarà proiettato un corto documentario di Chiara Nano (durata: 26'05”), dal titolo "L'Ultima Nicchia”, dedicato alle fasi di lavorazione del S. Annibale Maria di Francia, statua monumentale in marmo di Carrara collocata in una nicchia esterna della Basilica di San Pietro in Vaticano, la cui lavorazione ha richiesto 4 anni, tra Roma e Pietrasanta.
Biografia
Giuseppe Ducrot nasce nel 1966 a Roma, dove vive e lavora attualmente. La sua carriera artistica trae origine con l’esercizio nella tecnica della pittura a tempera e del disegno. Fonte d’ispirazione delle opere realizzate nei primi anni della sua attività sono l’arte classica della Roma imperiale, la scultura ellenistica, ma anche le invenzioni scenografiche del barocco, rilette alla luce di una inedita sensibilità contemporanea, al fine di costruire elaborate figure mitologiche e di santi. La sua sofisticata operazione di sintesi culturale, concettuale e provocatoria a un tempo, culmina con la realizzazione nel 1996 del busto di Marco Aurelio giovane per la facciata del Museo Borghese a Roma e dell’Erma di Ninfa per piazza Capo di Ferro, sempre nella capitale. Nell’anno del Giubileo, il 2000, realizza un intero programma decorativo liturgico per la cattedrale di Norcia, realizzando l’ambone, il trono, l’altare e la statua di San Benedetto (ora a Spoleto); mentre con la serie di pastelli eseguiti per il film diretto da Marco Tullio Giordana, I cento passi, raggiunge una certa popolarità anche fra i non addetti ai lavori. Il 2003 è un anno cruciale per il percorso artistico di Ducrot: la città di Cassino gli commissiona il monumento a San Benedetto, inaugurato due anni più tardi. L’artista romano si cimenta così per la prima volta con la tipologia di scultura monumentale pensata per uno spazio pubblico, approfondendo il discorso critico sulla funzionalità dell’opera, concepita in stretta relazione col contesto paesaggistico o architettonico. Una riflessione che prosegue nel 2005 con la commissione della statua di San Giovanni Battista per la basilica di Santa Maria degli Angeli a Roma, inaugurata nel 2012, e nel 2009, con la realizzazione della statua di Sant’Annibale Maria di Francia, collocata nel 2010 in una nicchia esterna della basilica di San Pietro. E’ il preludio alla partecipazione alla 54esima Biennale di Venezia, dove, all’interno del Padiglione italiano, presenta un’opera tratta dalla serie dei Cavalieri su sarcofaghi. L’anno successivo Ducrot viene coinvolto, assieme ad altri protagonisti della scena artistica contemporanea italiana, nel restauro della cattedrale di Noto, dove nell’area del presbiterio realizza l’altare, l’ambone e la croce in bronzo argentato con basi in diaspro di Sicilia. Accanto alla sua attività legata a committenze private e pubbliche, Ducrot da alcuni anni sperimenta, in piena autonomia creativa, soluzioni tecniche e formali lavorando materie quali la ceramica, la terracotta invetriata, con le quali dà corpo alla sua ricerca sui violenti contrasti cromatici, sulla dissoluzione della forma, sul rapporto spesso conflittuale fra opera e spazio fisico, dando libero sfogo alla sua imprevedibile scioltezza e facilità espressiva. 

terça-feira, 14 de abril de 2015

CÁSSIA RODRIGUES


Terapia de grupo

A louca que cuida de loucos
A insana que se diz sã
A histérica que ri de desespero
A doidivanas que sonha e resonha
E a "normal" que tudo vê
e deseja ser um pouco de cada
uma....


segunda-feira, 13 de abril de 2015

SIMONE



Há uma eterna inquietação em meus sentimentos. 


Constantemente me restrinjo ao singular 


apesar de querer ser sempre plural. 


E não consigo nunca um parágrafo inteiro. 



Converto-me em uma frase, 

querendo me tornar um conto. 


Queria a singularidade do coletivo.

domingo, 12 de abril de 2015

GONÇALO IVO BY VALTER HUGO MÃE

Photo by MC


CROMATISMO  PÚBLICO PORTUGAL 12/04/2015

Por vezes imagino que nos salvamos de toda a matéria e viramos apenas identidades que habitam a cor. A cor é um substantivo da matéria. Tenho sempre a impressão de que se rebela contra adjectivá-la e se torna tudo, como um ser que espera. As cores esperam. Enquanto lemos a luz, a cor torna-se alguém. Sabe coisas e é alguém. Um dia, desintegrados, talvez sejamos esplendorosa e unicamente participações na luz.
A pintura de Gonçalo Ivo é mais do que um estudo da cor, é uma escola para a cor. Ali, ela aprende. Amadurece, como animal efectivamente caçado, que não pode mais deixar de assumir sua evidência no mundo. Cada tela é uma classe, feita de superior mestria, onde a luz incide para se adorar já não enquanto acaso mas enquanto inteligência. É esta a diferença entre a cor por consciência e a casual. O trabalho de Gonçalo Ivo, cientista desta arte, é um modo de revelação, não enquanto delirante tentativa mas exactamente enquanto pronúncia de sábio que chega cada vez mais perto do que não se podia ver. As suas telas existem como provas de um gesto de luz semelhante ao gesto de deus. A luz sabe o que faz. Nas telas de Gonçalo Ivo a luz aprende a fazer.

O trabalho de Gonçalo Ivo pode ser a negação total da matéria para que a alma de cada coisa se liberte apenas no comportamento da luz
A arte deixa cair o figurativo porque a realidade exposta já não é suficiente, talvez nunca o haja sido e a insatisfação dos artistas esteve sempre comprovada, até tragicamente. A libertação da arte em relação à obrigação de representar, ou de apresentar cabalmente o seu significante, é fundamental para adentrar um espaço mental, que não deixa de ser também uma dimensão da realidade, caracterizado por uma imprecisa questão para uma ainda mais imprecisa resposta. Chegar à questão é o desafio, obter alguma resposta é a absoluta improbabilidade. O trabalho de Gonçalo Ivo pode ser a negação total da matéria para que a alma de cada coisa se liberte apenas no comportamento da luz. Neste sentido, faz-me sentir como a espiritualidade de tudo. Uma espiritualidade bastante que advém exclusivamente do poder da arte. Salvas da sua contingência material, todas as coisas se apresentam como atributos apenas mentalmente consideráveis, que é modo racional, pragmático, para se referir questões de alma. Gosto de pensar que as telas de Gonçalo Ivo são o despido dos corpos, corpos nenhuns, porque ainda assim se manifestam de modo fremente, o que comprova a sua intensa existência, como intensas podem existir outras realidades também insondáveis. Aquém da transcendência, muitas coisas são suficientemente transcendentes, vulgo, coisas da arte.
Aludindo à ideia de despir matéria, a pintura de Gonçalo Ivo lembra tecidos, isso que as manualidades inventaram para protecção e adorno e que se faz do intrincado de fios ínfimos. A ideia de intrincado interessa-me. Ainda que nos deparemos com a impressão de uma limpeza tremenda, o rigor da pintura de Ivo é uma forma de virtuosa ourivesaria da cor. Igual a facetar um diamante, o ofício deste pintor é o de depuração do comportamento da luz. Sim, como dizia, as suas telas são escolas para a cor. Ela, ali, aprende.
O belo poeta Martin Lopez-Vega (no perfeitíssimo catálogo Contemplaciones, editado em Espanha pela Papeles Mínimos) diz que nas telas de Gonçalo Ivo, profundamente planas, não há relevo, apenas geografia. Gosto muito. Tudo passa a ser sobretudo um lugar, como se pudéssemos efectivamente entrar num espaço sem, contudo, nada se definir por inteiro. Somos acolhidos, mas o que nos acolhe é a pura liberdade. Se as suas telas fossem tecidos, estaríamos sob eles ainda que o acto de observar nos crie a sensação de permanecermos sobre ou diante das coisas. Na arte, e porque é uma transcendência específica, o dentro e o fora, o cima e o baixo, podem simplesmente ser predicados inutilizados. Na arte, e porque provavelmente é a única transcendência existente, o dentro e o fora, o cima e o baixo, podem simplesmente ser predicados inutilizados. Tudo no trabalho de Gonçalo Ivo o explica. Essa convicção de que, na geografia, existe afinal caminho para o lado de lá da matéria, como aferição de uma alma, como passeio pela luz, colhendo cores igual a quem colhe um ramo generoso de rosas. Amo rosas.     

sábado, 11 de abril de 2015

Amar- Marília Pêra (Carlos Drummond de Andrade)



Amar 
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade