Seguidores

quarta-feira, 9 de março de 2022

BOOKS 1/2022



Books 1/2022 


1.

Mary Shelley

The New Annotated

Frankenstein 

Edited by Leslie S. Klinger

W Norton Back number



2.

JOSÉ Carlos Gentili

Lagoa dos Cavalos

Almedina 



3.

Anton Pavlovich Cechov

Sulla Strada Maestra 

Garzanti 



4.

Anton Pavlovich Cechov

Il canto del Cigno

Garzanti 



5.

Anton Pavlovich Cechov

Sulla Strada Maestra 

Garzanti 



6.

Anton Pavlovich Cechov

Sul Danno del Tabacco

Garzanti 



7.

Anton Pavlovich Cechov

L’Orso

Garzanti 



8.

Anton Pavlovich Cechov

Sulla Strada Maestra 

Garzanti 



9.

Afonso Pena Júnior 

Cadeira VII

Discurso ABL em 14 de agosto de 1948

Recepção de Alceu Amoroso Lima

ABL



10.

Anibal Freire da Fonseca (1884-1970)

Cadeira III

Discurso ABL em 10 de maio 1949

Recebido por João Neves da Fontoura 

ABL



11.

Elmano Cardim

Cadeira XXXIX

Discurso em 29 de setembro de 1950

Recebido por Levi Carneiro 

ABL



12.

Austregésilo de Athayde

Cadeira VIII

Discurso em 14 de novembro de 1951

Recebido por Múcio Leão 

ABL



13.

André Neves

Obax 

Brinque-Book Editora 











 





sexta-feira, 4 de março de 2022

Gonçalo Ivo


ILUMINURAS

ENCONTRO COM HOMENS NOTÁVEIS I

04/03/2022Por Goncalo Ivo

Em nossa curta existência, cruzamos com pessoas notáveis. Minha história justifica o que afirmo. Foram inúmeras convergências, desde minha juventude. A isso,
agregava extensas horas de leitura, sempre acompanhado pela música. Em minha tenra idade, ainda não percebia que a fluidez dessa convivência não era obra do acaso. Nada é fortuito. Todos os segredos, significados e mecanismos invisíveis desses encontros, afinidades e pertencimentos pareciam estar escritos em pedra.

Passavam pelo apartamento de Botafogo poetas, pintores, filólogos, arquitetos, gente de teatro e cinema, cientistas, críticos de arte e de literatura. Ainda no
colégio São Vicente de Paulo, no início dos anos 1970, sentia-me à margem. Os jovens colegas eram adeptos do esporte, dos carros e das primeiras conquistas sexuais. Minhas inclinações se dirigiam à solidão da música, da pintura e da literatura. Dormia na biblioteca de meu pai. Minha cama era um estrado projetado por Sergio Rodrigues. Da baixa altura dessa cama improvisada, mirava as lombadas de livros de Ray Bradbury, Campos de Carvalho, José Lins do Rêgo, Hermann Hesse, Kurt Vonnegut, Jorge Amado e muitos outros. Sem sequer levantar-me, pedia às minhas mãos que levassem ao foco de minhas retinas O lobo da estepe, Sidarta, Crônicas marcianas, Capitães de areia, Menino de engenho, A bagaceira, Robinson Crusoé, A lua vem da Ásia e a Ilha do tesouro.



Aluísio Carvão, Cornucópia, 1955 



No verão de 1999, caminhando em Paris na Rue de Rennes, em direção ao meu “marchand de couleurs”, no Boulevard Edgar Quinet, a loja L’Artiste Peintre, de
propriedade de Raoulf e Bassam, árabes católicos libaneses, deparo-me com a alta figura de Sérgio de Campos Mello na esquina com a Rue de L’Abbé Gregoire. Não nos víamos havia vários anos, talvez mais de uma década.

Em 1976, Sérgio e Aluísio Carvão foram meus professores no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Ser aluno deles foi uma escolha minha. Havia
visitado várias classes do bloco-escola do MAM, porém minha intuição me guiou para Sérgio e Aluísio, com os quais, para além de minha admiração, passei a cultivar uma recíproca e profunda amizade.



Aluísio Carvão, Clarovermelho, 1959 


Aluísio Carvão tinha olhos verdes-azuis, como a água pura de alguma praia incógnita do Norte ou Nordeste do Brasil. Em suas aulas, em pleno verão carioca, até os ventiladores e as cigarras silenciavam. Usava um jaleco branco de uma alvura luminosa, que contrastava com sua pele morena e avermelhada. Para mim, suas classes nunca foram aulas de desenho, e sim verdadeiros rituais pelos quais devemos passar para, se possível, um dia, sabermos quem somos e a que almejamos. Olhava, desenhava e interpretava. Sentia-me instigado a continuar trabalhando.

Não raro, Carvão trazia um florão barroco de madeira, ostentando suas curvas mineiras, a pátina degradada pelo tempo e a fome centenária dos cupins. Colocava-o ao lado de um cacho de bananas. E eu me indagava se o pequeno objeto barroco que ele tanto admirava não havia sido “subtraído” de uma pequena capela mineira por um padre ou coroinha.

O mundo girava e, à noite, na vertigem do meu exíguo estrado de madeira, minha ilha secreta, visitava os oceanos e os seus inesgotáveis continentes de papel.



Aluísio Carvão, Wilma Meu Amor, 1978 



Gonçalo Ivo
Paris, 22 de fevereiro de 2022.