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quinta-feira, 10 de maio de 2012

ROBERTA MATTOSO (2/2)



O sempre, o nunca e o infinito(2/2)



Quanto ao nunca... O que é o nunca? O nunca é uma negação que dá idéia de inexistência em algum momento, em algum lugar guardado no futuro de cada um. Sendo o nunca negação e inexistência, como saberemos o momento propício para soltarmos de nossas bocas tal palavra? Que bola de cristal magnífica temos então ao precisarmos com o peito estufado que nunca faremos ou repetiremos aquela ação que tanto queremos esquecer! Queremos esquecer sim porque a palavra nunca carrega junto dela o sentimento do medo. Medo da reprise, medo de sermos fracos o suficiente e repetirmos a dose letal que quase nos matou de amor ou de ódio, medo de experimentarmos algo temeroso vindo do quinto dos infernos e de gostarmos e de nos viciarmos, medo de entrarmos num caminho sem volta, como João e Maria no meio da floresta sem as migalhas de pão, medo de nos perdermos de nós mesmos e irmos de encontro às nossas convicções tão inabaláveis e tão impossíveis de serem rompidas porque, afinal de contas, juraremos de pés juntos que sabemos guiar nossas vidas da melhor maneira possível. Sempre.
O nunca é profético, é apocalíptico e praticamente inviável conjugá-lo com precisão. Sendo nós seres tão mutáveis, tão volúveis, que a cada movimento respiratório faz com que mudemos drasticamente de destino, o nunca é a mesma promessa impossível contida no sempre. O nunca é o ódio platônico que temos por algo ou alguém, é a vontade de envenenarmos um pensamento que sabemos que não morrerá nem se fizermos despacho em Salvador, nem que subamos de joelhos as escadarias do Senhor do Bonfim, nem que façamos todas as novenas existentes pra todos os santos que pudermos. Nenhuma de nossas rezas, orações e promessas farão com que o nunca realmente desapareça da mente, do corpo, da alma, da lembrança e do coração. O nunca estará sempre presente dentro de nós.
O sempre e o nunca para mim são pseudônimos dos sentimentos antagônicos mais conhecidos pela humanidade: o amor e o ódio.  E como já dizia sabiamente o poeta numa música que “o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões”, o sempre e o nunca são na verdade eternos amantes. Um não vive sem o outro; são siameses, caras-metades, almas gêmeas.
Quer saber onde entra o infinito nessa história toda? É simples. É no infinito que esse casal de amantes se ama, longe de tudo, de todos e de toda respiração alheia. É no infinito que eles tornaram o impossível para nós, possível pra eles...






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@modernalapa

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