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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

LÚCIO CARDOSO (1912-1968)



ABERTURA Nº 1

As portas estão abertas, solenes,
para aqueles que não vieram.
Para os que se perderam nos sonhos
ou os que procuram no desespero.

As portas estão abertas silenciosas,
como as portas das grandes Catedrais.
Elas não esperam por aqueles
que as alcançaram facilmente,

pelos que encontraram numa floresta
o manso regato.
Esses jamais sentirão o valor
das imensas portas abertas.

Elas anseiam pelos que não 
encontraram a direção,
para os quais tudo era
um grande deserto sem veredas.

As portas abrem-se contentes
para os que procuraram
água na terra de pedras,
na terra de pedra e areia, puras.

Para os que procuraram
nas plagas do desespero
a sombra benevolente
da tranquilidade e do sono.

Esses, e somente esses,
os abandonados às margens do caminho,
os desgarrados do imenso rebanho,
os que não viram brilhar

a estrela na noite,
saberão porque estão abertas as portas.
E apenas esses se apegarão a elas
como um surdo a um murmúrio.





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