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segunda-feira, 15 de junho de 2009

BORIS PASTERNAK (1890-1960)

Ser famoso...


Ser famoso não é bonito.
Não nos torna mais criativos.
São dispensáveis os arquivos.
Um manuscrito é só um escrito.


O fim da arte é doar somente.
Não são os louros nem as loas.
Constrange a nós, pobres pessoas,
Estar na boca de toda a gente.


Cumpre viver sem impostura.
Viver até os últimos passos.
Aprender a amar os espaços
E a ouvir o som da voz futura.


Convém deixar brancos à beira
Não do papel, mas do destino,
E nesses vãos deixar inscritos
Capítulos da vida inteira.


Apagar-se no anonimato,
Ocultando nossa passagem
Pela vida, como a paisagem
Oculta a nuvem com recato.


Alguns seguirão, passo a passo,
As pegadas do teu passar,
Mas tu não deves separar
Teu sucesso do teu fracasso.


Não deves renunciar a um mínimo
pedaço do teu ser,
Só estar vivo e permanecer
Vivo, e viver até o fim.


(1956)


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