Seguidores

segunda-feira, 29 de junho de 2009

"REDAÇÃO DE UMA ALUNA DA UFPE"


"Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no
elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos
bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido,
feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado
nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um
sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e
filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos,
num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a
se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno
índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou
o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco
tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a
se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do
substantivo Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu
aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma
fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para
ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num
vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele
foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um
imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo
direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu
ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um
período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela
confessou que ainda era vírgula ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou
outra soletrada em seu apóstrofo.

É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente
oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela
totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e
substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa
próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um
perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu
grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu
repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo,
e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram
gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver
aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo
auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo
o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto
adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um
superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa
maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.

Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu
tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições
eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do
substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois
dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na
história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e
voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo
feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva".



Um comentário: