O PASSARINHO PRESO (1/2)
Na gaiola empoleirado,
Um mimoso passarinho
Trinava brandos queixumes
Com saudades do seu ninho.
"Nasci para ser escravo
(Carpia o cantor plumoso),
Não há ninguém neste mundo,
Que seja tão desditoso.
Que é do tempo que eu passava,
Ora desça tanso amores,
Ora brincando nos ares,
Ora pousando entre flores ?
Mal haja a minha imprudência,
Mal haja o visco traidor;
Um raio, um raio te abrase.
Fraudulento caçador !
E, que pequei ? Porventura
Fiz-te a seara algum mal ?
Encetei, mordi teus frutos.
Como o daninho pardal ?
Agrestes, incultas plantas
Produziam meu sustento,
Inútil aos que se prezam
Do alto dom do entendimento...
Do entendimento ! Ah malignos !
Vos, possuindo a razão,
Tendes de vícios sem conto
Recheado o coração .
Ah ! Se a vossa liberdade
Zelosamente guardais,
Como sois usurpadores
Da liberdade dos mais ?
O que em vos é um tesouro,
Nos outros perde o valor ?
Destroi-se o jus do oprimido
Pela forca do opressor ?
Não tem por base a justiça,
funda-se em nossa fraqueza
A lei, que a vos nos submete,
Tiranos da Natureza.
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