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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

LÊDO IVO - NOBEL (1/5)


Adelto Gonçalves (*)
I
Fosse Lêdo Ivo poeta da língua inglesa ou francesa ou mesmo castelhana, já teria sido galardoado ou ao menos indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Como, porém, faz poesia num país periférico e de pouca representatividade econômica e cultural, e vale-se de um idioma que, embora falado por mais de 200 milhões, ainda é visto pelo resto do mundo como um código secreto, essa é uma hipótese pouco viável, até mesmo porque as próprias instituições acadêmicas do País, que deveriam propor o seu nome, não se animam a fazê-lo.


E não deveria ser assim – pois, afinal, se países igualmente periféricos e até menos representativos do ponto de vista econômico, como Chile e México, já tiveram poetas reconhecidos com o Nobel, o Brasil não deveria ser tão menosprezado pelos eruditos da Academia Sueca. A diferença é que Gabriela Mistral (1889-1957), Nobel de 1945, e Octavio Paz (1914-1998), Nobel de 1990, fizeram poesia na língua de Cervantes (1547-1616). Por esse mesmo raciocínio, é de imaginar que se o galego Camilo José Cela (1916-2002), Nobel de 1989, não tivesse desprezado tanto a cultura de sua terra-mãe, a Galiza, e não tivesse escrito suas obras em castelhano, provavelmente, nunca teria sido lembrado pela Academia Sueca.
Portanto, concluiria o desavisado leitor, o preterimento só se explica pela pouca representatividade desta língua que Olavo Bilac (1865-1918) chamou de “última flor do Lácio, inculta e bela”. Mas não é assim porque a ideia perdeu força em 1998, quando o primeiro Prêmio Nobel de Literatura saiu para a língua portuguesa, na pessoa do romancista José Saramago. Se Portugal, praticamente, organizou uma força-tarefa para garantir a premiação a Saramago – e o fez muito bem – e, com justa razão, ainda luta para que António Lobo Antunes também seja reconhecido, não há motivo para que o Brasil não apresente um bom candidato, ainda que, em outros tempos, quando Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Jorge Amado (1912-2001) eram vivos, houvesse maiores possibilidades de êxito.
Até porque, se uma língua é representativa na medida em que aqueles que a falam desfrutam de riqueza material, o Brasil já começa a se aproximar desse patamar, pois, segundo previsões das autoridades financeiras mundiais, em 2016, o País deverá passar a quinta maior economia do planeta. E, por esse ponto de vista materialista, a língua de Camões (c.1524-1580) já começa a ganhar também representatividade.

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