Seguidores

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

LÊDO IVO - NOBEL (4/5)


Muitos foram os livros de Lêdo Ivo e relacioná-los aqui seria exaustivo, até porque também publicou livros de contos, crônicas, duas autobiografias e três de literatura infanto-juvenil. Mas é de destacar que foi na década de 1980, em plena maturidade, que sua poesia se cristalizou, a partir de Mar oceano (1987), a que se seguiram Crepúsculo civil (1990), Curral de peixe (1995), O rumor da noite (2000) e os textos até então inéditos reunidos em Plenilúnio (2000). Como bem observou Ivan Junqueira, ao contrário de muitos poetas cuja produção se amesquinha na velhice, a de Lêdo Ivo cresce ainda mais, alcançando a transcêndencia inata da obra de arte em poemas em prosa ou em excertos de prosa poética espalhados por Mar oceano.

Em grande parte desses poemas, percebe-se o uso medido não só do oxímoro, um dos recursos estilísticos preferidos de Fernando Pessoa (1888-1935), e outras figuras de linguagem, como de certa nostalgia de “uma luz perdida” que remete para Camilo Pessanha (1867-1926), o que faz de Lêdo Ivo não exatamente um poeta de idéias, mas de imagens, um poeta abstrato, cerebral, essencialmente intelectual, em sua obsessão pela musicalidade do verso, como se pode constatar nas palavras que seguem:
Sempre andei me buscando e não me achei.
E ao pôr-do-sol, enquanto espero a vinda
Da luz perdida de uma estrela morta,
sinto saudade do que nunca fui,
do que deixei de ser, do que sonhei
e se escondeu de mim atrás da porta.
É de notar ainda que a poesia de Lêdo Ivo atravessou incólume a década de 60 sem se deixar levar pela cantilena dos concretistas de São Paulo, meros adoradores de Ezra Pound (1885-1972) e James Joyce (1882-1941), cujos versos hoje são praticamente ininteligíveis. Embora estudioso de Herman Melville (1819-1891), Nathaniel Hawthorne (1804-1864) e William Carlos Williams (1883-1973), como assinalou Assis Brasil, Lêdo Ivo manteve-se fiel aos grandes poetas da língua portuguesa. É o que se vê na intertextualidade que pratica neste poema com famosos versos de Fernando Pessoa:
Minha pátria não é a língua portuguesa.
Nenhuma língua é a pátria.
Minha pátria é a terra mole e peganhenta onde nasci
e o vento que sopra em Maceió.
São os caranguejos que correm na lama dos mangues
e o oceano cujas ondas continuam molhando os meus pés quando sonho. (...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário