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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999)




O ARTISTA INCONFESSÁVEL


Fazer o que seja é inútil
Não fazer nada é inútil
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil e que seu sentido 
não será pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém,
que o feito o foi para ninguém.

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