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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

BOCAGE (1765-1805)



O PASSARINHO PRESO (2/2)


Em ofensa das deidades,
Em nosso dano abusais
Da primazia, que tendes
Entre os outros animais.


Mas ah triste ! Ah malfadado !
Para que me queixo em vão ?
Que espero, se contra a forca
De nada serve a razão ? "


aqui parou de cansado
O volátil carpidor ;
Eis que chegar da caca
O seu bárbaro senhor.


Trazia encostado ao ombro
O arcabuz fatal, e horrendo,
E alguns pássaros no cinto,
Uns mortos, outros morrendo.


Das penetrantes feridas
Ainda o sangue pingava,
E do cruento verdugo
As curtas vestes manchava.


O preso vendo a tragédia ,
Coitadinho estremeceu,
E de susto, e de piedade
Quase os sentidos perdeu.


Mas apenas do soçobro
Repentino a si tornou,
Cos olhos nos seus finados
Estas palavras soltou :


" Entendi que dos viventes
Eu era o mais infeliz :
Que outros tem pior destino
Aquele exemplo me diz.


Da minha sorte j'agora
Queixas não torno a fazer :
Antes gaiola que um tiro,
Antes penar que morrer. "






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