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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Andréa Thomé Netto


   

Sobre medos e conforto.


O ser humano vive em busca de segurança como nenhum outro animal. Nunca veremos um cachorro ou um peixe, preocupados com seu futuro, se haverá alimento suficiente, se seus amigos vão gostar de seu novo corte de cabelo ou se em sua migração sazonal as condições estarão favoráveis. Os animais simplesmente vivem seu momento presente de acordo com o que ele apresenta.

            Nós, ao contrário, dotados de razão, temos uma tendência de correr alucinadamente em busca da segurança, da permanência que simplesmente não são possíveis no decurso da vida. O processo de viver já traz em seu bojo as modificações. Não podemos ficar eternamente no ventre de nossas mães, não podemos ser crianças para sempre, não podemos ser jovens por muitas décadas, não podemos deter o envelhecimento nem todas as alterações que acontecem durante os anos em que permanecemos vivendo. 

          A vida é dinâmica, o que está acontecendo hoje, amanhã já se acabou, o que queremos muito nesse momento, no próximo pode nos causar até repulsa e é nesse movimento que vamos amadurecendo, vamos desenvolvendo novas habilidades e vamos evoluindo enquanto pessoas.

            O medo, ao contrário, já é uma reação animal muito natural, que serve para nos resguardar de perigos. Uma lebre tem medo quando vê uma raposa e, provavelmente, irá fugir o quanto puder de seu alcance. Nossos medos humanos não se restringem a perigos físicos. Com nossa capacidade de refletir sobre o passado e o futuro, podemos ter medos variados, desde um predador real como um assaltante, até medo de nos faltar dinheiro para comprar alimentos em determinada circunstâncias.

E é com base nessas vivências pessoais ou aprendidas de outras pessoas que desenvolvemos nosso modo de relacionamento com as condições que a vida nos apresenta. Há pessoas destemidas que quase nada temem e outras que podem ter medo de coisas pequenas como errar o tempero de uma comida.

Juntando nossa necessidade de segurança com a forma como lidamos com as mudanças e o medo, passamos a vida nos arriscando mais ou menos a novas empreitadas. É o que se chama em psicologia de “zona de conforto”. Aquela situação em que nos sentimos confortáveis, em que julgamos administrar bem as emoções que a acompanham e que nos dá a sensação de segurança tão almejada.

Todos temos as nossas zonas de conforto em várias áreas de nossa vida e não há nada de errado se nos faz bem, se estamos felizes assim. Há quem tenha feito um curso superior, seja um profissional bem sucedido e não se interesse em buscar outros conhecimentos, fazer novos cursos, ler outros livros. Se vai continuar sendo um profissional bem sucedido dessa forma só o futuro dirá.

Há quem saiba que precisa se exercitar, melhorar sua capacidade cardiorespiratória e com isso beneficiar sua saúde integral, mas insiste em ficar no sofá, vendo tv e se alimentando de forma inadequada, num comportamento confortável, mas que não lhe garantirá um envelhecimento livre de desconfortos muito maiores.

Há quem fique em relações infelizes e insatisfatórias, em que se sabe exatamente como irá começar e terminar cada dia, cada mês, cada relação sexual, cada discussão, cada desconforto. Sabe-se tanto que se acostuma, pois tudo volta “ao normal” depois de um certo tempo, uma zona (des)confortável.  Os exemplos são infinitos.

Muitas vezes o que nos falta é um pensamento mais amplo. Focamos no conforto, no medo, na insegurança e nos esquecemos que a vida é passageira, não sabemos quanto tempo ainda nos resta e assim vamos desperdiçando tempo, que não voltará mais.

Nunca mais você terá o dia de ontem para ler um livro que não foi lido. Você poderá fazer isso amanhã, se ousar sair da zona de conforto e se houver um amanhã em sua vida. Ontem você podia ter saído para caminhar e até mesmo esbarrado em um novo amor, mas preferiu o sofá. Se continuar preferindo ficar sentado hoje, amanhã e depois de amanhã, chegará daqui a 10 anos igual ou pior fisicamente do que atualmente.

Medos existem, são importantes, nos protegem dos perigos. O problema é quando eles também nos impedem de buscar mudanças positivas em nossa vida. Nesse caso eles devem ser enfrentados.

A diferença entre uma pessoa medrosa e uma destemida não é a ausência do medo, mas a ousadia de enfrenta-los.

Se você sente que sua vida está como a música “Cotidiano” do Chico Buarque, em que todo dia você faz tudo sempre igual e isso não te agrada, ouse, mude, faça diferente, saia da sua zona de (des)conforto! Se não conseguir sozinho, busque ajuda. Pode ser um líder religioso, uma pessoa mais experiente em quem você confia, um amigo próximo ou um psicoterapeuta. Importa buscar a mudança, importa enfrentar seus medos.

Eu não posso te garantir que suas novas escolhas irão te fazer mais feliz ou não, mas sem tentar você nunca irá saber.

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