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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

MONTEIRO LOBATO (1882-1948)



REAÇÕES MENTAIS DUM INGÊNUO

Prefácio

Escrever é anotar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena — e disso vem o valor da literatura. Por meio dela fixam-se aspectos da alma dum povo, ou pelo menos momentos da alma desse povo.

Neste livro está enfeixada uma série de reações ocorridas num período bem atormentado da vida brasileira. Todos sentíamos um terrível e indefinível mal ambiente. Um cheiro de fim. Era a República Velha que agonizava na presidência Bernardes.

A revolta surda que em toda gente latejava explode nas reações do escritor sob forma de cólera represa, de sarcasmo, de simpatia pela Rússia de Lenin, de anseio vago por uma revolução que viesse quebrar a sórdida cristalização leda e cega em que vivíamos desde 89.

A espaços, fugas para o passado — para o passado nosso e para o passado da França, visto como para o brasileiro daquele tempo (e talvez ainda para o de hoje) havia o Brasil aqui e a França lá fora. Fugas que nos aliviassem do mau presente.

E a revolução sentida no ar veio — para o que ainda não sabemos. A experiência está a processar-se. Impossível determinar se houve ganho dalguma coisa ou não.

Na aparência desordenada e desunificada deste livro de impressões dadas em jornal — pelo O JORNAL de Assis Chateaubriand e pela A MANHÃ de Mario Rodrigues — há uma estranha unidade, denunciadora do estado de espírito dos tempos.

Na Antevéspera era livro que devia sair em começos da presidência Washington. E que não saiu por uma razão bem de cabo de esquadra: falta de título. Preguiça, desânimo de descobrir um título. Por fim os originais se desgarraram, sumiram-se — e assim sumidos passaram vários anos. Um dia encontrei-os, amarelecidos pelo tempo, atrás dum armário. Reli-os com extrema curiosidade.

— Onde já lá vai tudo isto! foi o o comentário da saudade.

Durante esses anos de interregno o autor viveu fora do país, voltando para vê-lo com o grande sonho da Revolução realizado. E sentiu-se um pouco mais triste do que antes.

Que as revoluções revolvem, sabemos. Mas que não melhoram o material revolvido ficamos sabendo. Creio que hoje há por aqui mais tristeza, mais desespero resignado porque andamos todos a sentir que a grande coisa para a qual sempre apelávamos parece que falhou. E se falhou, para que mais apelar?

Entra, ainda no livro uma coisa que não é daquele tempo. Servirá para mostrar como resistem, subsistem e insistem na República Nova certos mancais técnicos, arquigastos, da República Velha.

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