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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

GONÇALO IVO EM CURITIBA


Caderno G

Domingo, 15/11/2009
Fotos: Divulgação / “O que pinto é uma confluência de tudo o que aconteceu antes de mim. Cada artista é um reinterpretador do que já foi feito antes.” Gonçalo Ivo, artista plástico
Fotos: Divulgação
“O que pinto é uma confluência de tudo o que aconteceu antes de mim. Cada artista é um reinterpretador do que já foi feito antes.” Gonçalo Ivo, artista plástico
VISUAIS

Um animal pictórico

O artista plástico carioca Gonçalo Ivo está em Curitiba para a abertura de uma exposição, com 22 obras inéditas, na Galeria Simões de Assis
Publicado em 12/11/2009 | ANNALICE DEL VECCHIo
Quando Waldir Simões de Assis convidou o carioca Gonçalo Ivo para expor em Curitiba, há cerca de três anos, levou ao ateliê do artista, em Teresópolis, no Rio de Janeiro, a planta da galeria Si mões de Assis. “Concebi a exposição a partir dela, dividindo os espaços como pequenas capelas”, conta Ivo.
O termo religioso é utilizado por esse artista prestigiado para fa lar de como concebeu as 22 obras que expõe a partir de hoje, em sua primeira exposição individual na cidade, aonde retorna pela segunda vez. Ele esteve aqui aos 7 anos, acompanhando o pai, o poeta Lêdo Ivo, em uma conferência literária. “Quero rever Vila Velha, que na infância me pareceu um lugar fantástico”, conta.





Contemporâneo, sim, mesmo sendo um tipo cada vez mais raro de pintor, da cepa de um Adolfo Volpi, como escreve o crítico Olívio Tavares de Araújo no texto que abre o catálogo da exposição: “(Ivo Gonçalo) é um resistente do ofício, do enfrentamento com a tela, do fazer dedicado e diuturno”. Um “animal pictórico”, como o próprio artista se define. “Ser pintor não é algo que cogitei ser ou não ser. Mesmo que me dissessem ‘você está proibido de pintar’, eu pintaria”, diz.Ivo considera esta exposição – uma continuação do que expôs, no ano passado, na Pi na coteca do Estado de São Paulo (juntamente com a exposição de Tarsila do Amaral) e no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro – como uma de suas iniciativas mais radicais. “As pessoas em São Paulo e no Rio me perguntavam espantadas ‘Como você vai apresentar em Curitiba obras como uma tela inteiramente vermelha? Vai haver público?’”, diz, referindo-se à extrema contemporaneidade da mostra.

Memória africana
As grandes telas listradas, de cores intensas, induzem à contemplação e fazem referências aos pa drões dos tecidos africanos que Ivo coleciona. “O vermelho que uso não é pagão, mas de alguma religião que vem da África”, explica o artista, cujo interesse pela arte do continente negro é puramente emocional, não racional. “Pergunto sempre porque no Bra sil, uma país notadamente marcado pela herança africana, não há essa informação na arte que se produz? O passado arcaico não toca o brasileiro?.”
Suas telas pontuadas pelas listras horizontais são uma alusão poética aos tecidos que lhes dão nome, mas também uma metáfora da própria pintura, “que co bre com tinta uma certa superfície”, diz Ivo. Outras obras, com lis tras somente nas extremidades, deixando um grande espaço no centro da tela, foram denominadas “Oratórios”. “É uma referência a essa natureza de culto, de contemplação, que a pintura tem para mim”, diz o artista.
A arte é, para Ivo, eminentemente social. “É uma espécie de afirmação do eu, o artista precisa dizer ao mundo ‘olha como sou, o que faço, o que você acha?’, desafiando seu espectador como se perguntasse ‘você pode interagir comigo?’”, explica.
Há dez anos, o carioca mudou-se com a mulher e os dois filhos para Paris. Costuma dizer que precisou ir para lá para se sentir mais brasileiro. “Meu pai era nordestino, minha mãe mineira, viajei muito com eles por essas regiões. A informação visual que recebi no Nordeste, o mar azul, o sargaço, impregnou meu trabalho de uma forma telúrica, subliminar, e isso se fortaleceu na França”, conta.
Pintor intuitivo, que considera a pintura como parte de seu DNA, conta que, no silêncio do ateliê, procura produzir a partir da chamada “pesquisa pura”, ou seja, livre de qualquer elemento extrapintura. “Mas é claro que o que pinto é uma confluência de tudo o que aconteceu antes de mim. Cada artista é um reinterpretador do que já foi feito antes”, diz o artista que, na infância, conviveu com escritores como João Cabral de Melo Neto e artistas como o gaúcho Iberê Camargo, em cujo ateliê passavam muitas horas.
Artista intuitivo, ele se identifica com autores antagônicos como Volpi e o alemão Paul Klee. “Eles são exemplos de que a criação artística não é algo estritamente mental. Volpi foi um imigrante italiano analfabeto e que, apesar disso, conseguiu inventar uma linguagem originalíssima e extremamente sofisticada. Klee fez o mesmo, mas era cultíssimo. No entanto, os dois desembocaram no mesmo mar”, conta.
Na abertura da exposição, Ivo também lança o livro Gonçalo Ivo, organizado por Fernando 
Cocchiarale.








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