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terça-feira, 22 de julho de 2014

FERNANDO PESSOA - ÁLVARO DE CAMPOS



Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos nisto: estou tonto.


Afinal
Que vida fiz eu da vida ?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto...


Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto....


Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.


Mas se isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Bem estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto.


12-9-1935,
[507] pag 399

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