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sábado, 16 de janeiro de 2010

GONÇALO IVO 4/6


- Que avaliação você faz do ensino da arte no Brasil Hoje? O que mudou em relação aos seus anos de formação, para pior e para melhor? Os alunos do Parque Lage, por exemplo, conhecem Iberê Camargo, Volpi, Guignard? Existe uma conspiração de silêncio contra artistas que não derivem da matriz Helio Oiticica/Ligia Clark?
GONÇALO - Não sei se os jovens artistas estudantes do Parque Lage conhecem em profundidade Iberê Camargo, Volpi, Guignard ou mesmo Pancetti, Goeldi, Livio Abramo, Maria Leontina, Milton da Costa, Visconti, Castagneto, Batista da Costa e tantos outros. Este não é um problema circunscrito à EAV. Fui professor visitante da Escola Nacional de Belas Artes em 1986. Naquela época lecionava uma matéria que para mim soava bizarra, Pintura V. O que é isto? Um belo dia estava falando sobre pintura espanhola. Senti que só os ventiladores do verão carioca se comunicavam comigo. A totalidade dos alunos nunca havia ouvido falar em Goya, Zurbaran, Velázquez e El Greco. Evidente, este não é um problema do aluna, é um problema que passa pela escola, pelo professor despreparado, etc. Os meus professores – Sergio Campos Melo e Aluísio Carvão – sempre ensinaram de maneira profunda e humanística. Quando eu tinha 20 anos conheci o pintor José Maria Dias da Cruz. Passávamos as madrugadas conversando sobre Leonardo, Giorgioni, Raphael, Cézanne, Braque etc.  Não acredito que exista uma conspiração silenciosa contra artistas que não derivem de Helio e Ligia, mesmo porque os dois, na minha opinião são grandes artistas. O que há é um ensino voltado para o mercado e um sistema de arte que supervalorizou estes artistas.
- O mercado internacional valoriza cada vez mais artistas e obras que dispensam a técnica, o artesanato e até mesmo a mão do artista. Penso, por exemplo, em Jeff Koons e Damien Hirst. Como você analisa esse fenômeno?
GONÇALO – Precisamos diferenciar conceito de preço e valor, de mercado especulativo e de algo que seja realmente importante para a cultura. Vivemos num mundo complexo onde há espaço para tudo. Prefiro lutar a favor de obras  de artistas brasileiros que na minha opinião ainda não foram devidamente reconhecidas como as de Maria Leontina, Dionísio del Santo, Abelardo Zaluar, José Maria Dias da Cruz, Ubi Bava, Yolanda Mohaly entre outros. Há também por parte de todos um grande desconhecimento sobre a arte brasileira do final do séc XIX e começo do XX. A arte contemporânea não pode sobreviver sem se nutrir de mestres como Visconti, Castagneto, Batista da Costa, Ana Vasco, Belmiro de Almeida, Antônio Parreiras, Oswaldo Teixeira e tantos outros.

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