- Qual é a sua leitura pessoal de Marcel Duchamp? Ele é o artista mais importante do séc XX?
GONÇALO - Duchamp é um artista importante, não para a visualidade do século XX. Ele aboliu o fazer, a manualidade, a afetividade do artista com os materiais de arte. Tudo o que Duchamp fez era parte do projeto moderno. Não sei quem é o artista mais importante do século XX. Talvez possa citar agora alguns artistas que considero dos mais importantes: Leonardo, Raphael, Cézanne, Braque, Brancusi, Edward Hopper, Cézanne, Vermer, e muitos outros. Para mim como artista nunca houve uma tal hierarquia. Acredito sim numa capacidade atemporal da arte. Costumo dizer que um tecido africano e um Ticiano têm um mesmo valor do ponto de vista estético para mim. Este é o meu olhar.
- O que pensa da idéia pós-moderna de que a História da Arte acabou, defendida pelo crítico Arthur C. Danto?
GONÇALO - Esta tese me parece próxima à de um outro teórico, Fukuyama que previu o fim da história. Dos vaticínios, prefiro acreditar no de Marcel Duchamp que disse em 1961 que uma grande névoa de mediocridade iria se abater sobre a arte e que a causa estaria na submissão do artista ao mercado e ao seu sistema. Eu como ator não tenho condições de gerar um julgamento. E como todo vaticínio, há sempre um lugar para o erro e para a imprecisão. Acho que há artistas preocupados com a excelência da arte no mundo de hoje. Se eles têm oportunidade de emergir ou não, é um outro problema.
- Que artistas brasileiros contemporâneos chamam a sua atenção, e por quê? Que comentários poderia fazer sobre as obras de Vik Muniz, Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto?
GONÇALO - Há vários artistas contemporâneos brasileiros que têm um trabalho extraordinário. Citaria alguns nomes como Rubem Grilo, José Maria Dias da Cruz, o gravador João Atanásio, Gianguido Bonfanti, o gravador paulista Evandro Carlos Jardim A maioria destes artistas têm um grande conhecimento do seu métier. O desenhista Amador Perez, por exemplo, sempre me encantou. Seu trabalho transcende o tempo e as escolas, aliás como a maioria destes artistas que citei acima. Gosto muito do trabalho de Ângelo Venosa, Cildo Meireles, Nelson Félix e Tunga. A lista poderia ir se estendendo… Com relação aos artistas que você citou, acho o trabalho de todos muito instigante. Em 1996, numa entrevista ao Globo, citei o trabalho do Daniel Senise como um dos pintores da minha geração que eu admirava. Ele é extremamente rigoroso. Na mesma entrevista, falava também da Beatriz, declarei que ela era das poucas artistas da minha geração que trabalhava com uma palheta de tons altos e luminosos. Isto me agrada muito. Quanto a Vik Muniz e Adriana Varejão, conheci-os em Paris. Tenho seus livros na minha biblioteca. Quanto a Ernesto Neto, é um talento inegável. Prefiro seus trabalhos grandiosos, em que ele tem a capacidade de transformar espaços em ambientes cenográficos.
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