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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

GONÇALO IVO 6/6


- Muitos artistas jovens rejeitam a pintura, preferindo as instalações e a fotografia. Jovens pintores reclamam da falta de espaço. Por outro lado, um quadro de Beatriz Milhazes foi vendido por 1 milhão de dólares. E há quem comsidere Romero Brito é o maior artista brasileiro vivo. O que determina hoje, na prática, o que será valorizado ou não na arte brasileira? Existem disputas de poder?
GONÇALO - Acho que o debate intelectual envolve sempre disputas de poder. É assim desde que o mundo é mundo. Como diria o arquiteto americano Robert Venturi, eu também estou cansado dos bons e maus rapazes na arte. Temos que ter a clareza baseada no conhecimento e na sensibilidade para separar as coisas. A minha geração retomou a pintura no final dos anos 70, como é o meu caso, e no início dos anos 80 como no caso de Beatriz Milhazes e Daniel Senise. Foi uma reação natural à frieza e ao cerebralismo da arte dos anos 70. Mas eis que me vejo hoje admirando um trabalho como o do Cildo e do Waltércio Caldas.  O mundo da arte para mim é um mundo cambiante. Em1988 adquiri uma obra (um objeto de parede em arame) de Luciano Figueiredo. De maneira intuitiva eu estava prevendo a aproximação que tenho hoje de obras aparentemente colisivas com a minha, com a de Helio Oiticica e Ligia Clark. Quase 20 anos depois estreitei amizade com Luciano Figueiredo. Comecei a me interessar pela obra do Helio e ninguém mais gabaritado que ele para me guiar. O curador e autor do livro mais recente sobre meu trabalho, Fernando Cocchiarale, sugeriu então que Luciano Figueiredo se incorporasse ao projeto. É bem verdade que há alguns anos havia uma resistência grande em relação ao meu trabalho por ele ter esta característica de pintura com uma certa marca européia apesar de todas as informações brasileiras . Não sei o que determina a valorização comercial de um artista. É claro que há atores envolvidos com interesses específicos como marchands, curadores, leiloeiros, etc. Em minha entrevista a Fernando de Franceschi no catálogo do Instituto Moreira Salles declarei que o jovem artista deveria procurar ter uma formação sólida, isto é, o conhecimento humanista, do seu ofício, dos materiais e com lidar com eles. Pintura é um processo lento, tem a ver com a vida.
- Que avaliação faz dos curadores, galeristas e marchands  brasileiros? São sérios e profissionais? Quais as principais diferenças entre o sistema da arte no Brasil e na França?
GONÇALO - No meu caso pessoal procuro relacionar-me com marchands, galeristas e curadores que se interessem por mim e tenham relação com meu trabalho. Presumo que os outros artistas procedam da mesma maneira. Completo dizendo que o mercado de arte, como todo mercado, tem as suas características específicas e inconfundíveis.
- A crítica ainda exerce algum papel relevante no Brasil? Como analisa isso?
GONÇALO - Em primeiro lugar, deve ser acentuado que o artista é ou deve ser o grande crítico de si mesmo. Minha obra é uma obra crítica. Quanto à crítica decorrente da exposição e divulgação do trabalho de qualquer artista, ela se desenvolve em vários planos com os mais vários enfoques de aplauso, aceitação ou mesmo recusa. Cabe ao artista aceitar e até respeitar a diversidade dessa recepção. Meu pai costuma citar-me o exemplo de seu amigo Guimarães Rosa. Quando saía um artigo fazendo restrições à sua obra, ele o colava no seu álbum de recortes de cabeça para baixo. Deste modo ele punia os críticos que não  aceitavam ou não  aplaudiam sua obra, que ele considerava genial. Aliás, quando Oswald de Andrade declarou que sua obra era “biscoito fino”, Guimarães Rosa costumava aconselhar ” Não faça biscoito, faça monumento”.

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