O RELOGIO
ao Orlando Taipa
A sala ha tanto fechada
Que sera que tem la dentro ?
Tem janelas de sacada
Que nao abrem para nada,
Tem na jardineira ao centro.
Das portas com reposteiros
As chaves ja se perderam.
Cadeiroes, ha dois inteiros.
E os varios cheiros
Num so, mau, se converteram.
Damascos bacos
Dos reposteiros corridos
Pendem graves caem lassos.
Por tras sugerem-se espacos
Nao para os nossos sentidos.
No corredor, (longe, perto
Quem sabe ao certo ?)
Ruminando horas vazias
De conteudo,
Um velho relogio mudo
Comanda o espectro dos dias.
No tampo da jardineira
Com lavores
A rica maneira,
Pousa a floreira
Sem flores.
E uma luva de mulher
Que em dado momento, um dia,
Veio ali ter,
Ali ficou a esquecer,
Murcha, enrugada, vazia.
A mao que algum dia a enchera
Do seu calor
E carne e sangue lhe dera,
Que e de essa mao ? de quem era,
Que ha so silencio em redor ?
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